Alguma vez você sentiu que está em um limbo quando o assunto é corpo? Em termos práticos, já se olhou no espelho e pensou: “ok, eu não sou magra, mas eu também não sou gorda, então o que eu sou?”. Se esses pensamentos já passaram por sua cabeça, assim como passaram pela minha diversas vezes, talvez você acabe se enxergando como uma garota midsize.
O termo midsize ainda é pouco abordado no Brasil. Muitas vezes, principalmente em campanhas publicitárias, é confundido com o corpo plus size – porém, não é a mesma coisa. Como o próprio nome diz, o corpo midi é exatamente o meio termo entre o que se diz “padrão” e o corpo plus. Para o perfil @midsizecollective, que celebra mulheres midsize ao redor do mundo, de uma forma simples, o termo engloba as meninas que vão do tamanho 40 ao 48 e se sentem no famoso limbo do meio termo.
A modelo midsize Andy Almeida, que produz conteúdo sobre midi nas redes, conta como começou a se enxergar como midi: “Meu corpo não é nem gordo e nem magro, fui percebendo isso de formas diferentes, na hora de experimentar roupas que horas não serviam, horas eram muito grandes, dentro do movimento body positive em que eu não me achava”.
A verdade é que muita gente se sente perdida quando o assunto é corpo, principalmente as meninas que já tiveram a sensação de vestir 40 em uma loja e 46 em outra. Você já passou por isso? A criadora de conteúdo Nanna Fernandes afirma que a moda foi um dos gatilhos para se descobrir midi: “Sempre fui uma pessoa mais larga e com curvas, e isso me deixava deslocada diante das representações corporais midiáticas”.
“Comecei a me questionar: ‘por que o corpo pode ser apenas dois extremos e não, também, um meio termo?’. E entendi que esse extremismo não é real, pois existem corpos no meio do caminho e, quando isso não é nem reconhecido, cria-se uma confusão e uma sensação de isolamento”, afirma Andy.
Nanna afirma que o limbo corporal e os extremos são um grande problema: “As pessoas que estão no meio-termo sentem que há algo de errado com elas, já que elas não se encaixam nem em um, nem em outro”. Ela ainda adiciona que quem se sente no limbo fica na busca constante e, muitas vezes sem sucesso, para sair dele, mas ressalta que desde que não engorde, já que, para a sociedade, isso é socialmente “errado” e visto como uma forma de fracasso. O problema de viver em um limbo é que você pode desenvolver diversos problemas psicológicos, como distúrbios alimentares e de imagem.
Entre tantas coisas, o termo midsize nos ajuda a não ocupar um lugar de fala que não é nosso, afinal, como Andy bem colocou, nós não estamos desmerecendo ou competindo com o lugar de fala de pessoas gordas, que colocam em pauta uma série de problemas que pessoas magras e midi não sofrem, como a falta de acessibilidade e diversos preconceitos sofridos por pessoas gordas. Nanna exemplifica: “Eu não sofro gordofobia, eu não sou desumanizada por causa do meu corpo. Eu sofro pressão estética, que é bem diferente. O midsize traz esse “novo” local, pois também não sou uma mulher magra e não vivo como uma”.
Mais do que um rótulo, o termo acolhe quem se sente perdida. “É um termo que nos ajuda a pesquisar pessoas parecidas com a gente, nos ajuda a criar uma comunidade dentro das numerações das roupas e que, quanto mais ganhar espaço, mais vai ajudar no futuro, imagina uma adolescente finalmente se enxergando em uma revista? É muito libertador”, conta Nanna.
Ainda falta muito para termos corpos 100% reais representados de forma verdadeira na mídia, mas, se encontrar e conversar com pessoas parecidas com você pode te ajudar a se aceitar mais. Para Andy, é sobre isso: “No meu processo pessoal o termo midsize me ajudou a encontrar um acolhimento e a me aceitar como sou. Ele pode ser mais um caminho para encontrar o amor-próprio”.