O fato de a Espanha ter ganhado a Eurocopa na mesma semana em que Kylian Mbappé, um dos maiores jogadores da atualidade, chegou ao Real Madrid é mais do que uma coincidência de fim de temporada, diz a La Liga. O movimento é resultado de quase uma década de trabalho da liga de clubes de futebol espanhola, que faturou quase 5 bilhões de euros (cerca de R$ 27 bilhões) no ano passado, com alta de 15% sobre 2022, de acordo com Daniel Alonso, delegado da La Liga no Brasil. Sim, como qualquer multinacional, a entidade tem 44 representantes e 11 escritórios espalhados ao redor do mundo atrás de negócios – e eles foram responsáveis por boa parte da alta de 28,6% nas receitas comerciais no ano passado. O Brasil é um de seus principais mercados.
“O sucesso esportivo tem muitas nuances, mas para chegar a esse ponto de competitividade é preciso ter um ecossistema muito saudável”, diz Alonso, que está há cinco representando a La Liga no País, depois de ter passado três em Portugal no mesmo papel. “O Real Sociedad tinha cinco jogadores na seleção espanhola, inclusive o que fez o gol na final da Eurocopa; o Athletic de Bilbao outros tantos, incluindo o goleiro: isso significa protagonismo de times menores, que têm qualidade e acabam resultando num produto altamente competitivo.”
E com apelo para venda, apesar da paralisia nos novos contratos causada pelos episódios de racismo que envolveram o brasileiro Vinícius Jr. Mesmo assim, a operação internacional é a frente de maior crescimento, já que os direitos de transmissão, principal fonte de receita, têm um teto de valor já praticamente alcançado, em torno de 3 bilhões de euros.
Se há poucos anos, 80% da receita com direitos de transmissão era proveniente da Espanha e 20% de outros países, hoje o porcentual está em 60% (mercado espanhol) a 40% (internacional). Assim, como os pares internacionais, o escritório brasileiro tem diversas frentes de negócios. Uma delas é aumentar o valor da marca, com relação aos direitos de transmissão audiovisual.
No caso, a missão da equipe brasileira é entregar mais engajamento e conteúdo voltado à estratégia de negócios da parceira exclusiva no Brasil, a ESPN. “Se eles quiserem aumentar o número de assinantes no Disney Plus, por exemplo, trabalhamos juntos para atingir esse público, principalmente o mais jovem, que consome produtos audiovisuais de um outro jeito”, diz Alonso. “Esse é um desafio para qualquer produtor de conteúdo esportivo e trabalhamos inclusive com outros influenciadores que essa nova geração ouve.”
A La Liga também tem uma escola de negócios, criada para alimentar o mercado espanhol de futebol profissional e que tem ganhado espaço no Brasil, após a criação da lei das SAFs (Sociedade Anônima de Futebol). Entre outros programas, há imersões na Espanha nas quais grupos (ligados ao campo ou à gestão) visitam times de vários portes. “Nem todos os clubes globais podem ter a estrutura do Real Madrid ou do Barcelona”, afirma. “É importante que o dirigente ou o diretor de futebol consiga se espelhar em realidades parecidas com a sua para poder se inspirar.”
Golzinho
Outra frente de negócios é a Liga School, rede de escolinhas de futebol com 23 unidades em sete Estados, com uma empresa local. Os planos são abrir de 10 a 12 novos pontos por ano. Segundo Alonso, um diretor técnico espanhol dá suporte e acompanha o trabalho nas escolas.
Outra área importante são patrocínios de marcas que queiram se associar ao campeonato espanhol – e que enfrentou uma crise com os episódios de racismo nos estádios daquele país. “É natural que as marcas tenham resistência, mas a gente é muito assertivo com o racismo”, diz ele. “Erramos na comunicação, mas o próprio Vinícius agradeceu nossa luta com ele.”
As empresas patrocinam o grupo de times em troca de pacotes, como ingressos VIPs a serem distribuídos a clientes ou funcionários, ou apenas pela visibilidade. Apenas no Instagram, a La Liga tem 2,7 milhões de seguidores. “Cada cliente tem uma demanda e desenhamos soluções para cada um”, diz ele. “A Iberia, por exemplo, quer falar com o jovem e a Chubb Seguros quer crescer na América Latina.”