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Variedades “Neymar – O Caos Perfeito”: muita imagem e pouco futebol. Série se concentra no personagem extracampo

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Mais de 200 pessoas trabalham para gerir a imagem do craque do Paris Saint-Germain, que tem 200 milhões de seguidores. (Foto: Divulgação)

Neymar, pelo Santos, conquistou três títulos estaduais, uma Copa do Brasil, uma Libertadores da América e uma Recopa Sul-Americana; no Barcelona, torneios espanhóis, uma Champions League e um Mundial de clubes; pelo Paris Saint-Germain, vários franceses; com a seleção brasileira, um sul-americano sub-20, uma Copa das Confederações e uma Olimpíada inédita para o país. Ganhou tudo – ou melhor, quase tudo: falta uma Copa do Mundo. Se essa façanha acontecer em dezembro deste ano, seus críticos lhe darão uma trégua? Provavelmente não. Alegre e arrojado, habilidoso e festeiro, irreverente e midiático, completando 30 anos em fevereiro, seu comportamento dentro e fora de campo é um reflexo de sua personalidade expansiva.

Como o próprio atleta declarou no documentário “Neymar – O Caos Perfeito”, recém lançado pela Netflix, as coisas aconteceram muito rapidamente em sua vida, acompanhada de perto pela família e pelos “parças”.

A influência do pai é colocada principalmente em uma passagem ainda no início da trajetória. Ao ser questionado, Neymar foi duramente repreendido por ele quando respondeu que, durante uma partida, não correu o bastante porque os companheiros também não o fizeram. Seguindo os seus conselhos, Neymar passou a se esforçar ao máximo em todos os jogos para influenciar e motivar o time em quaisquer circunstâncias. Além disso, o pai apoiou a decisão do então menino de 14 anos em não assinar contrato com o Real Madrid a fim de prosseguir a carreira no Brasil. No mesmo ano do teste na Espanha, 2006, os pais abriram a NR Sports, empresa que gere carreiras.

A gestão de imagem é um dos pontos centrais do documentário, dirigido por David Charles Rodrigues. O grande número de seguidores em redes sociais e o potencial comercial recebem tanta atenção quanto as conquistas esportivas. Não se abre muito espaço, então, para análises futebolísticas. Em uma das poucas – e das mais absurdas -, o ex-agente Wagner Ribeiro declara que Neymar seria muito superior a Pelé se tivesse surgido no mesmo período que o tricampeão mundial. Até mesmo o jornalista Juca Kfouri fala mais sobre a postura extracampo de Neymar, à qual é bastante crítico, ainda que não deixe de apontar que o jogador ainda não chegou ao limite do próprio talento.

Da mesma forma, relatos de jogos são deixados de lado, com exceção da impressionante goleada do Barcelona sobre o PSG, por 6 a 1, que a classificou nas oitavas da Liga dos Campeões de 2017, e das quartas de final e da decisão da Liga dos Campeões em 2020. Estão lá, no entanto, o alto faturamento do garoto-propaganda, as baladas, os “memes” sobre as constantes quedas do brasileiro na Copa do Mundo de 2018, as críticas dos torcedores franceses quanto ao comprometimento do jogador e os depoimentos de treinadores e atletas, como Beckham, Thiago Silva, Daniel Alves, Raí e Messi.

Veio do argentino, aliás, uma das atitudes para a evolução da carreira do brasileiro na Europa: durante a primeira temporada no Barcelona, em 2013/2014, Messi o encontrou chorando no vestiário devido a dificuldades de adaptação e foi conversar com ele, fato relatado como fundamental para o recém-chegado encontrar seu espaço. Foi na companhia do argentino – e na do uruguaio Luis Suárez – que Neymar teve seus melhores dias no clube espanhol, conquistando o principal título europeu em 2014/2015 e o Mundial de clubes (não citado na série documental).

O último grande acontecimento exibido foi a final da temporada 2019/2020 da Champions League, ocorrida em 23 de agosto de 2020, quando o Paris Saint-Germain foi derrotado pelo Bayern de Munique por 1 a 0. A recente reedição da dupla com Messi no PSG é mencionada, apenas textualmente, nos últimos instantes do documentário, ignorando o desempenho muito abaixo do esperado da dupla, do francês Mbappé, do ataque e do time.

Com mais de 200 funcionários para a gestão da imagem e da carreira – e mais de 200 milhões de seguidores nas redes sociais –, Neymar, segundo um de seus analistas, talvez esteja afastado da essência do esporte: ganhar títulos. Enquanto para o técnico René Simões estávamos “criando um monstro” em 2010, para um estudioso em comunicação, o craque se tornou uma marca, uma celebridade, um super-herói.

Ao próprio staff, o pai fala que todos eles são o suporte de Neymar, que, por causa de sua inocência, pode ser corrompido e manipulado. Após a acusação de estupro em 2019, o pai diz que a preocupação é que não seja derrubado o que de mais importante foi construído: “a estruturação da imagem”. Em nenhum momento, psicólogos, coaches, terapeutas ou outros especialistas em comportamento são mencionados para auxiliar nesse suporte.

Não por acaso, o pai também declara que os super-heróis da ficção, assim como seu filho, nasceram em meio ao caos. Por outro lado, há uma má avaliação e uma má vontade em muitas das análises e dos julgamentos. Cabe ao pai, ao staff, à família, aos “parças”, aos amigos, aos críticos – e, principalmente, ao próprio Neymar – reconhecer o caos imperfeito que ele – e todos nós – somos.

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