Segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 11 de junho de 2023
A cidade de Haia, onde moro, tem 11 km de um belo litoral com dunas ondulantes e praias arenosas. No verão, muitas vezes vejo moradores em Scheveningen ou Kijkduin (as praias mais famosas) tomando sol, caminhando na natureza ou pedalando de bicicleta e depois sentando-se em um dos muitos bancos disponíveis. Às vezes, eles estão lendo ou conversando com amigos. Em outras ocasiões, estão praticando niksen.
Niksen é uma tendência de bem-estar holandesa que significa “não fazer nada”. Ela chamou a atenção do mundo como uma forma de gerenciar o estresse ou se recuperar do esgotamento mental e físico.
Numa época em que muitos reclamam de exaustão e depressão causada pelo excesso de trabalho e buscam soluções para isso, conceitos como ikigai japonês ou hygge dinamarquês começam a entrar no léxico de outros idiomas.
Como linguista, adorei a ideia de poder expressar todo o conceito de não fazer nada em uma palavra curta e fácil de pronunciar. No meu livro Niksen: Embracing the Dutch Art of Doing Nothing (“Niksen: Aderindo à Arte Holandesa de Não Fazer Nada”, em tradução livre)”, defino o ato como “não fazer nada, não ter um propósito”.
Portanto, não estamos falando aqui de navegar no Facebook ou praticar meditação.
Enquanto o mindfulness é sobre estar presente no momento, niksen é mais sobre criar tempo para apenas ser, deixando a mente vagar para onde ela quiser ir. E, como estamos nos recuperando lentamente da pandemia de covid, é importante repensar a forma como trabalhamos e gastamos nosso tempo.
O menos possível
Linguisticamente, niksen (não fazer nada) é um verbo criado a partir de niks, que significa “nada”. Ele se encaixa na tendência da língua holandesa de criar verbos a partir de substantivos.
Outros exemplos são de voetbal (futebol) a voetballen (jogar futebol), de ‘internet’ a internetten, de ‘Whatsapp’ a whatsappen.
“Acho que isso é algo que acontece principalmente no holandês”, diz a psicolinguista Monique Flecken, da Universidade de Amsterdã, nos Países Baixos, que pesquisa como as línguas que falamos afetam a forma como vemos o mundo.
Essencialmente, é muito menos trabalhoso dizer niksen do que “não fazer nada”. “Os holandeses são pessoas práticas e diretas, e a linguagem reflete isso”, explica ela.
Na Holanda, a palavra pode ser usada de várias maneiras, tanto positivas quanto negativas. Flecken diz: “Um pai pode dizer a seu filho, ‘Zit je weer te niksen?’ (Você está fazendo nada de novo?). E eu também diria ‘lekker niksen’, que se traduz em ‘um delicioso fazer nada’, ao falar sobre uma noite feliz, livre de qualquer tarefa ou trabalho.”
Para o psicólogo Thijs Launspach, palestrante de TEDx e autor do livro Crazy Busy: Staying Sane in a Stressful World (“Loucamente Ocupado: Como se Manter Saudável em um Mundo Estressante”), niksen significa “não fazer nada ou cuidar de algo trivial como forma de aproveitar o tempo. Não exatamente não fazer nada, mas fazer o mínimo possível.”
Launspach acrescenta que isso se aplica principalmente a pessoas mais velhas, que têm mais tempo livre não estruturado.
Maior produtividade
As gerações mais jovens, por outro lado, estão mais estressadas do que nunca. E isso ocorre mesmo na Holanda, um país tradicionalmente aplaudido por seu equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal.
Há muitas razões para isso. “Nossas vidas e empregos se tornaram cada vez mais complexos. Tendemos a passar muito tempo no computador. Há muita pressão para ser a melhor versão de si mesmo, seja no trabalho, nas expectativas dos pais (ou) nas redes sociais. Há muita pressão”, constata Launspach.
Um pouco de estresse pode ser bom, como aponta o professor de psicologia da Universidade de Leiden, Bernet Elzinga.
“Não é necessariamente ruim ficar em estado de estresse por um momento, no qual você está realmente focado. O problema é quando isso sai do controle”, explica. Mas o niksen pode ajudar nessa questão. “Quando não está fazendo nada, você se conecta ao seu modo padrão. E esse modo é responsável pela divagação e pela reflexão na mente”, explica Elzinga.
Paradoxalmente, o niksen também pode nos tornar mais produtivos, simplesmente porque as pausas permitem que o cérebro descanse e volte com melhor foco e atenção. Provavelmente é por isso que, embora os holandeses não trabalhem muitas horas, eles tendem a ser muito eficientes no trabalho.