Apesar do estoque ainda tímido em comparação ao de bancos tradicionais, empréstimos oferecidos por plataformas digitais vêm crescendo num ritmo forte. Levantamento da Serasa Experian mostra que o volume de crédito concedido por fintechs e bancos digitais avança em média 62,8% ao ano – oito vezes a média do mercado, com alta anual de 8,1%.
O levantamento foi feito com base no intervalo de 2016 a 2021. No período, o volume oferecido por startups do setor passou de R$ 4,8 bilhões para R$ 55 bilhões. Já a oferta de todo o Sistema Financeiro Nacional (SFN) foi de R$ 3,174 trilhões para R$ 4,685 trilhões.
Aumento de 412%
O estudo indica ainda que 2022 deve seguir a tendência de alta: houve aumento de 412% nas pesquisas de CPFS e CNPJS para concessões de crédito por todas as empresas financeiras. Do total dessas pesquisas, 10,6% eram de startups.
Parte expressiva dessa demanda por crédito tem sido para o pagamento de dívidas. Um mapeamento da Finanzero, plataforma online que faz intermediação de empréstimo com 60 instituições financeiras e compara as taxas de juros, apontou que 33,3% dos pedidos em agosto tinham como objetivo quitar dívidas. Na sequência, citado por 16,3%, ficou negócio próprio. Em média, o valor solicitado foi de R$ 6,6 mil.
Dívida atrasada
A Creditas, que oferece empréstimos com garantia, também registrou esse movimento: em setembro, 29% da procura por crédito com garantia de veículo foi para pagar dívidas. A demanda pela modalidade cresceu 43% nos últimos 12 meses.
“As pessoas querem sair da dívida e estão buscando crédito pessoal. Porém, para um endividado com comprometimento da renda acima de 30%, é muito difícil conseguir esse crédito”, diz Renata Eufrosino, gerente da Finanzero. “Mas aí entra um ponto: a fintech tem apetite de risco maior e olha para esse público.”
Por três anos, o funcionário público Theogenes Ramos, morador de Piaçabuçu, interior de Alagoas, engrossou a lista de inadimplentes no País. Enquanto construía sua casa, viu sua dívida no cartão de crédito crescer e chegar a R$ 6 mil. “Eu comecei a construir e a comprar material, mas minha esposa ficou desempregada”, conta.
Com o nome sujo e sem limite disponível, passou a utilizar cartões de crédito de amigos e parentes para conseguir terminar a obra. “Eu ficava sem pagar meu cartão, mas tinha o compromisso de pagar os deles.”
Ramos começou a se livrar da dívida há cinco meses, depois de pesquisar na internet como uma pessoa negativada consegue empréstimo. Encontrou uma fintech que aprovou dois empréstimos: um de R$ 500 e outro de R$ 750. Juntou uma reserva e quitou o que devia no cartão. “Não estou mais inadimplente e, agora, consigo pagar o que devo.”
Educação financeira
Além do cenário econômico desfavorável, com inflação e juros altos, outro fato que tem levado à inadimplência é a falta de educação financeira, agravada por “excesso de confiança”. É o que indica uma pesquisa da Creditas em parceria com a Opinion Box. Segundo o estudo, 70% das pessoas acreditam que conseguem avaliar as melhores opções ao se depararem com diferentes linhas de crédito. Porém, mais da metade (52%) já se endividou pelo mau uso do cartão de crédito ou do cheque especial.
“O brasileiro está habituado a utilizar crédito curto, o cheque especial, e caro, que é o cartão de crédito. Não é porque a pessoa conhece as opções tradicionais disponíveis no mercado que sabe qual é mais adequada para ela”, diz Maria Teresa Fornea, vice-presidente da unidade de empréstimo com garantia de imóvel da Creditas. “Qualquer pessoa que tem um carro ou um imóvel, por exemplo, consegue um crédito melhor, pois tem prazos mais longos e taxas menores.”