Na medida em que o cenário inflacionário se tornou ainda mais complexo com a disparada dos preços das commodities, o salto dos juros de mercado, em reação ao ambiente global, levou a taxa de juro real a subir com força nos últimos dias. Cálculo do Valor Data, com base no swap de 360 dias e nas expectativas de inflação de um ano extraídas do boletim Focus, mostra o juro real em 7,47%, maior nível desde agosto de 2016.
Com a escalada dos preços do petróleo Brent acima de US$ 100 por barril em meio ao atual cenário de guerra na Ucrânia e seus reflexos no mundo – na madrugada de segunda-feira, o barril chegou a US$ 139,13 –, os participantes do mercado começaram a colocar nos preços dos ativos níveis cada vez mais altos de juros.
Esse movimento teve continuidade na segunda-feira. Na B3, a taxa do DI para janeiro de 2023 saiu de 12,98% para 13,105%; e a do DI para janeiro de 2024 subiu de 12,585% para 12,85%. O mercado também passou a ver uma inflação mais alta à frente. De acordo com dados da Renascença, a NTN-B com vencimento em maio de 2023 passou a indicar uma inflação de 6,37% ante 5,20% um mês atrás.
Na segunda-feira, o boletim Focus voltou a mostrar piora no cenário para a inflação, mas em movimentos dados ainda a passos lentos. A mediana das estimativas para o IPCA no fim deste ano subiu de 5,60% para 5,65% e, entre as casas cuja revisão de cenário se deu nos últimos cinco dias, a estimativa mediana para o IPCA ficou em 5,78%.
“Para a inflação, o cenário é altista. Existe um vetor de energia e de preços de alimentos, que já implica uma alta para as nossas projeções para algo como 6,5%”, diz o economista-chefe da Occam, Paulo Val. Antes, a gestora carioca trabalhava com um cenário de IPCA em 6,2% neste ano. “E isso coloca um viés de alongamento do ciclo de aperto monetário. Antes, tínhamos 12,25% para o fim, mas provavelmente o BC vai ter de fazer mais uma alta de 0,50 ponto para justamente tentar conter o contágio para a inflação de 2023”, afirma.
Val agora espera que a Selic termine o atual ciclo em 12,75%. Para o profissional, diante de um cenário “muito fluido”, não seria o momento de o BC dar convicção para o próximo passo. “O grau maior de flexibilidade é completamente adequado ao que temos hoje, mas o BC tem de reafirmar, tem de ratificar o objetivo de convergência da inflação para a meta, o que ajudaria a conter uma eventual deterioração adicional das expectativas”, afirma o economista.
Diante da disparada dos preços das commodities, que deixa ainda mais desafiador o cenário de desinflação previsto para este ano, a possibilidade de uma Selic mais alta se mostra cada vez mais forte. A MB Associados passou a projetar o juro básico em 13%; o Modalmais elevou a projeção para a Selic de 12,25% para 12,75%; e a XP Asset Management passou a ver possibilidade de a taxa básica terminar o ciclo entre 12,75% e 13,25%. As informações são do jornal Valor Econômico.