Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 2 de maio de 2021
Facções criminosas do Rio de Janeiro estão avançando no domínio de mais um serviço essencial para população. Bandidos tomaram o controle de antenas de telefonia e internet em vários bairros da região metropolitana.
O homem é um ladrão de wi-fi – e de sinal de celular também – de milhares de brasileiros. Ele tenta se esconder da câmera de segurança ao entrar nas instalações das antenas das operadoras de telefonia. Mas não se intimida ao anunciar aos técnicos das empresas mais uma modalidade do crime no Rio de Janeiro: o sequestro dessas antenas.
“Tem bandidos armados, criminosos ou então algum representante desse crime organizado que diz: ‘Olha, eu tenho um recado aqui para vocês. Essa antena está sob a nossa responsabilidade agora. Eu quero receber alguma coisa por isso’”, conta uma pessoa que não quis se identificar.
Em algumas áreas, o controle de quem pode passar começa já com barricadas nos acessos. Com técnicos impedidos de entrar nas instalações para fazer a manutenção, muitas antenas ficam fora de serviço. E dependendo do tamanho da área coberta, um único equipamento pode significar 4 mil moradores sem sinal, fora a dificuldade de acesso para quem passa por uma região em que há o problema.
“Nessa época de pandemia, home office, ninguém está conseguindo fazer nada sem internet. Estudar, trabalhar, fazer o que for”, diz um relato.
As operadoras dizem que, hoje, 26 antenas estão sequestradas no estado do Rio de Janeiro e, como nas instalações também ficam os equipamentos da rede fixa de internet e celular, são 158 mil pessoas afetadas.
Segundo as operadoras, são moradores de 72 bairros da capital e de outras 3 cidades da região metropolitana: Niterói, São Gonçalo e Itaboraí. Na capital, o sequestro ocorre em bairros como Barra da Tijuca, Vila Isabel, Madureira e Campo Grande.
Os moradores também dizem que sabem da dificuldade de serem atendidos quando esse é o problema. “As operadoras já gravaram mensagens prontas para quando se liga para reclamação dizendo que em função da segurança pública não é possível restabelecer o sistema, uma vez que os seus profissionais sofrem ameaça de morte com relação à prestação dos serviços feita pelos bandidos do local”, conta um morador.
E denunciam que grupos criminosos querem impor seus próprios serviços: “Eles querem mesmo é que a gente coloque a internet deles”, conta outro morador.
“Os bandidos estão obrigando o cidadão de bem a fazer um consumo de um produto clandestino, de má qualidade e de roubo que é o que eles fazem”.
As empresas afirmam que a perda dessas antenas provoca um prejuízo que passa de R$ 100 milhões por ano só com a reposição de equipamentos, e que já pediram a ajuda das autoridades para recuperar as instalações.
“Estamos falando de um serviço que é fundamental para a educação, saúde, e é essencial também para o serviço de utilidade pública, como bombeiro, polícia, emergência médica. Então, quando a população fica cerceada de ter acesso a esses serviços, ela acaba sendo prejudicada”, explica Marcos Ferrari, presidente executivo da Conexis Brasil Digital.
“A gente espera que as autoridades tomem posse do problema e deem uma solução, porque está interferindo na vida de muitas pessoas, porque as redes foram destruídas”, afirma um morador.
O Ministério Público do Rio afirmou que vai solicitar à Polícia Civil a instauração de inquérito sobre os fatos mostrados na reportagem e que irá acompanhar as investigações.
A Secretaria de Polícia Civil do Rio informou que tem feito operações e fiscalizações com frequência para reprimir os atos ilícitos dessas quadrilhas, e que há investigações em andamento para prender os envolvidos.