Victor Ambros e Gary Ruvkun são os ganhadores do Prêmio Nobel 2024 de Medicina, anunciou a Assembleia do Nobel no Instituto Karolinska, da Suécia. Os dois norte-americanos dividem igualmente o prêmio, que totaliza 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 5,8 milhões), pela descoberta dos microRNAs e seu papel “na regulação genética pós-transcricional”, um processo fundamental para o desenvolvimento das células do nosso corpo.
No ano passado, o prêmio de Medicina também foi para dois cientistas, Katalin Karikó e Drew Weissman, por seus estudos que permitiram o desenvolvimento de vacinas eficazes contra a Covid-19.
Desde 1901, mais de cem Prêmios Nobel em Fisiologia ou Medicina (como é formalmente chamado) foram distribuídos. A distinção científica de renome mundial só não foi concedida em nove ocasiões: em 1915, 1916, 1917, 1918, 1921, 1925, 1940, 1941 e 1942. Ao longo dos anos, das 227 pessoas agraciadas com o Nobel em Medicina, apenas 13 eram mulheres.
Os vencedores
Ambos os laureados dividem igualmente o prêmio, recebendo metade cada um pelo impacto de suas contribuições no campo da biologia molecular, anunciou o comitê do Nobel.
Gary Ruvkun nasceu Berkeley, na Califórnia (EUA), e é médico e pesquisador vinculado ao Massachusetts General Hospital e à Harvard Medical School, em Boston (EUA), e foi premiado por sua pesquisa que revelou o papel dos microRNAs na regulação dos genes.
Segundo o Nobel, sua descoberta ajudou a entender melhor como os genes são ativados e desativados nas células.
Já Victor Ambros nasceu em Hanover, no New Hampshire (EUA), e atualmente é professor na Universidade de Massachusetts Medical School, em Worcester, Massachusetts.
Ambros compartilhou o Prêmio Nobel com Ruvkun por seu trabalho inovador na descoberta dos microRNAs, pequenas moléculas de RNA (ácido ribonucleico) que regulam a atividade genética e são fundamentais para o desenvolvimento das células.
As descobertas
O comitê do Nobel afirmou que Ambros e Ruvkun levaram o prêmio por descobrirem uma nova classe de pequenas moléculas de RNA, chamadas de microRNAs (miRNAs).
Essas moléculas são fundamentais na regulação da atividade genética, ou seja, o processo que controla como as células funcionam e se desenvolvem.
Sem os microRNAs, as células e os tecidos não se desenvolvem corretamente. Quando a regulação por microRNAs não funciona, por exemplo, ela pode levar a doenças graves, como câncer e diabetes.
Assim, a função dos microRNAs é ajudar as células a selecionar quais genes devem ser expressos, garantindo que apenas as instruções necessárias sejam ativadas em cada tipo de célula.
A evolução do SARS-CoV-2 (o vírus que causa a Covid-19), por exemplo, foi influenciada pelos microRNAs humanos. No caso da Covid, estudos indicam que os miRNAs, tanto do hospedeiro quanto do vírus, influenciam a infecção.
Por isso, encontrar miRNAs que possam ajudar a reduzir a gravidade da Covid-19 é uma abordagem bastante promissora.
Thomas Perlmann, secretário-geral do comitê do Nobel de Medicina, explica que provavelmente toda doença está associada à função do microRNA. “É muito claro que distúrbios na função de microRNA estão ligados ao câncer. Na verdade, essa relação sugere que, em uma perspectiva mais ampla, microRNAs desempenham um papel fundamental em muitas condições de saúde.”
Embora ainda não existam tratamentos diretos desenvolvidos a partir dessa descoberta, a possibilidade de manipular os microRNAs para influenciar a expressão gênica tem o potencial de abrir novos caminhos para a criação de medicamentos, especialmente no tratamento de doenças como o câncer.
“Compreender esses mecanismos pode ser crucial para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas”, acrescenta Perlmann.
Um verme no caminho
Na década de 1980, Ambros e Ruvkun estavam interessados em entender como os genes controlam o momento de ativação das “instruções” genéticas, o processo que garante tudo o que as células precisam para crescer.
Para isso, eles examinaram algumas cepas mutantes do verme C. elegans, um organismo minúsculo de 1 mm de comprimento.
Alguns desses vermes, portadores do gene conhecido como lin-4, eram maiores, enquanto outros, com o gene lin-14, eram menores. Ou seja, esses genes pareciam ter um papel chave no desenvolvimento desses pequenos seres vivos.
Na década de 1980, Ambros então percebeu que o gene lin-4 parecia inibir o lin-14, mas a maneira como isso acontecia ainda era um mistério.
Enquanto isso, Ruvkun, que também estudava os genes, descobriu que o lin-4 não bloqueava sua produção, mas impedia o processo que transforma as informações do DNA do verme em proteínas, moléculas responsáveis por diversas funções no organismo.
Ao comparar suas descobertas, Ambros e Ruvkun perceberam que uma parte do lin-4 se encaixava na parte final do lin-14, que não estava relacionada à produção de proteínas.
E era essa conexão fundamental que interferia o lin-14, revelando uma nova forma de regular os genes, controlada por pequenas moléculas chamadas de microRNA.