Terça-feira, 18 de março de 2025
Por Redação O Sul | 3 de fevereiro de 2018
A deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ), nomeada por Michel Temer para comandar o Ministério do Trabalho, é alvo de um inquérito que apura suspeitas de associação para o tráfico de drogas durante a campanha eleitoral de 2010. A investigação foi enviada na sexta-feira (02) para a Procuradoria-Geral da República, em Brasília, porque Cristiane possui foro privilegiado.
O inquérito também apura suposto envolvimento do deputado estadual Marcus Vinicius (PTB), ex-cunhado da parlamentar, e três assessores dela no crime. Eles são acusados de dar dinheiro a traficantes de Cavalcanti, bairro pobre da Zona Norte do Rio de Janeiro e uma das bases eleitorais da deputada. As informações foram divulgadas pelo jornal O Estado de S. Paulo.
O procedimento foi aberto, inicialmente, pela Polícia Civil, após denúncias serem encaminhadas por e-mail à ouvidoria da corporação. Os nomes dos autores das denúncias foram preservados por motivo de segurança. Conforme os denunciantes afirmaram no inquérito, assessores de Cristiane – que na época era vereadora licenciada e comandava uma secretaria municipal na gestão do prefeito Eduardo Paes (MDB) – pagaram a traficantes para ter “direito exclusivo” de fazer campanha na região.
Cristiane não se candidatou em 2010, mas naquele ano apoiou a candidatura de Vinicius – então seu cunhado – à reeleição. Ela se candidatou e foi eleita deputada em 2014. Cristiane e Vinicius negam todas as acusações. O inquérito investiga também se líderes comunitários foram coagidos pelos criminosos a fazer campanha eleitoral. Nas denúncias, há referências a “Zezito”, apontado como chefe do tráfico das comunidades Vila Primavera, Parque Silva Vale e JJ Cowsert, localizadas no bairro de Cavalcanti.
Segundo um dos denunciantes afirmou no inquérito, os traficantes chegaram “ao absurdo de levarem as presidentes das associações do bairro para conversar com o chefão do morro porque elas não queriam trabalhar para a vereadora [Cristiane]”. “A intenção dele [assessor] era que o chefão fosse mandar dar uma surra nelas e obrigá-las a trabalhar para a vereadora ou, em caso de recusa, até mesmo matá-las”.
Uma líder comunitária relatou na investigação formal que foi ameaçada porque não participou de panfletagem. Um dos assessores de Cristiane à época foi acusado de, em cumplicidade com um primo apelidado de “Cigarrão”, invadir casas dos moradores para a retirada de cartazes de outros políticos por ordem de Zezito.
Em quase oito anos, o inquérito andou devagar. Cristiane nunca foi ouvida, apesar de ter sido expedida, em 29 de setembro de 2011, uma intimação para depoimento. A Polícia Civil tentou intimá-la no Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa. Na época, ela era secretária de Envelhecimento Saudável do município.
O inquérito tramitava desde 2010 na Delegacia de Combate às Drogas. Na semana passada, a investigação foi remetida pela Polícia Civil ao Ministério Público Estadual. O órgão imediatamente anunciou que o remeteria ao Ministério Público Federal no Rio. Em 2015, porém, Cristiane, após ser eleita deputada em 2014, ganhou foro especial no STF.
Ministra
A deputada foi nomeada há um mês ministra do Trabalho por Temer. O objetivo de Temer era obter apoio do PTB, presidido por Roberto Jefferson, pai da deputada e presidente da legenda, à reforma da Previdência. Uma série de decisões judiciais, a mais recente da presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, a impediu provisoriamente de tomar posse.