Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 11 de julho de 2024
Investigados falaram sobre suposta minuta de decreto golpista para Bolsonaro continuar no poder.
Foto: Carolina Antunes/PRO policial federal Marcelo Araújo Bormevet, preso nesta quinta-feira (11) suspeito de arapongagem, perguntou a um subordinado, em dezembro de 2022, se o então presidente Jair Bolsonaro (PL) já havia assinado a minuta de decreto golpista para continuar no poder. Aquele foi o último mês da gestão de Bolsonaro.
“Alguma novidade?”, perguntou Bormevet, que trabalhava no governo, ao militar Giancarlo Gomes Rodrigues em 21 de dezembro de 2022. “P*rra nenhuma!!”, respondeu Giancarlo.
“O nosso PR imbrochável já assinou a p*rra do decreto?”, quis saber o policial federal. “Assinou nada. Tá f**a essa espera, se é que vai ter alguma coisa”, disse o militar. “Tem dia que eu acredito que terá, tem dia que não”, desabafou Bormevet.
A troca de mensagens entre o policial federal e o militar foi anexada à representação que a Polícia Federal (PF) enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir a prisão dos suspeitos e a deflagração de uma nova fase da operação que investiga o esquema que ficou conhecido como “Abin Paralela”.
O delegado Daniel Carvalho Brasil Nascimento, responsável pela investigação, sustentou que Bormevet e o policial federal Carlos Magno, outro investigado no caso, possuíam relações diretas com os canais de inteligência, seja pelo exercício funcional na Abin, seja na própria Polícia Federal.
De acordo com o delegado, “as referências relacionadas ao rompimento democrático declaradas pelos policiais é circunstância relevante que indica no mínimo potencial conhecimento do planejamento das ações que culminaram na construção da minuta do decreto de intervenção”.
“As ações clandestinas para atacar opositores, instituições e desacreditar o sistema eleitoral, portanto, se situam potencialmente na linha de desdobramento natural dos fatos que resultaram na tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, revelando a potencialidade ofensiva ímpar da apropriação indevida da Inteligência de Estado”, sustentou.
“Os investigados Bormevet e Giancarlo, portanto, tinham a plena ciência do caráter ilícito das ações que lhe eram demandas, bem como que se tratava de ação destinada a atacar opositores políticos e instituições que fossem contrárias aos intentos do núcleo-político destinatário final e principal beneficiário dos produtos ilícitos da estrutura-paralela infiltrada na Abin”, disse a PF.
O delegado defendeu o compartilhamento das provas obtidas na investigação com outros inquéritos que tramitam no STF, como o das fake news, dos atos antidemocráticos e o das milícias digitais, para que haja um aprofundamento da apuração.
“É relevante o evento relacionado às tratativas dos policiais federais Bormevet e Carlos Magno, que incluíram referência expressa à assinatura do decreto de rompimento democrático mencionado pelo policial federal Bormevet ao militar Giancarlo”, disse.
Segundo o delegado, ainda não foram identificadas todas as estruturas da organização criminosa nem seus métodos operacionais.
“Mas é evidente que a organização permanece ativa, conforme demonstram as campanhas de desinformação promovidas por foragidos. Estes são alimentados pela desinformação gerada por uma estrutura paralela de inteligência que se infiltrou na Abin”, disse.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) concordou com o compartilhamento por entender que a célula da organização criminosa não se restringia às investigações relacionadas à Abin, mas poderia ecoar em outros inquéritos. Paulo Gonet afirmou que o compartilhamento das provas é essencial para a confirmação da tese investigativa.
O ministro Alexandre de Moraes acolheu o pedido da Polícia Federal e autorizou o compartilhamento por entender que há conexão de provas entre a investigação e os inquéritos das fake news, das milícias digitais e dos atos antidemocráticos.