Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 24 de abril de 2024
No período de 1859 e 1906, naturalistas britânicos descobriram os primeiros fósseis de dinossauros na América do Sul, na região da Bacia do Recôncavo, na Bahia. Esses fósseis, que eram considerados perdidos, foram encontrados novamente por uma pesquisadora brasileira na reserva técnica do Museu de História Natural de Londres, lançando uma nova luz sobre os primórdios da vida pré-histórica em terras tupiniquins. Durante seu doutorado em Londres e suas pesquisas no museu, a paleontóloga Kamila Bandeira, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), deparou-se com os fósseis e iniciou sua análise.
“Percebi que, além de sua importância histórica como a primeira descoberta na América Latina, tratava-se de uma nova espécie de dinossauro”, relatou ela.
Kamila Bandeira e a pesquisadora Valéria Gallo, do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes (Ibrag) da Uerj, são as coordenadoras do estudo que identificou a nova espécie de dinossauro ornitísquio, conhecido popularmente como “bico-de-pato”. Ela foi nomeada de Tietasaura derbyiana, em homenagem à icônica personagem “Tieta do Agreste”, do escritor baiano Jorge Amado, e ao geólogo e naturalista Orville A. Derby, fundador do Serviço Geológico do Brasil. Essa descoberta lança uma nova perspectiva sobre a diversidade dos dinossauros que habitaram os antigos territórios brasileiros durante o período Cretáceo.
Homenageada pelas pesquisadoras, a personagem Tieta virou protagonista de uma novela brasileira produzida pela TV Globo em 1989, com Beth Faria no papel. Já, em 1996, no filme “Tieta do Agreste”, quem a interpretou foi Sônia Braga.
Já a espécie de dinossauro Tieta, carinhosamente apelidada de Tieta, tinha de 2 a 3 metros de comprimento, tamanho semelhante a um carro de porte médio. Não se sabe ao certo se o dinossauro encontrado era do sexo feminino, mas as duas pesquisadoras decidiram desafiar a convenção não escrita de atribuir nomes masculinos a todos os fósseis.
“Os achados descritos nesta pesquisa representam, não apenas uma das faunas de dinossauros mais diversas deste intervalo de tempo, mas também uma descoberta histórica importante”, enfatizou Kamila, que completa: “As ocorrências de dinossauros em depósito Pré-Barremiano, ou seja, de cerca de 130 milhões de anos atrás, são raras, mundialmente falando, e consideradas produto de uma escassez global de depósitos continentais desse período.”
Os resultados do estudo foram publicados neste mês de abril no periódico científico “Historical Biology”. Além de fornecer novas perspectivas sobre a evolução e diversificação dos dinossauros, o estudo ressalta a importância da preservação e estudo das coleções históricas para o avanço da ciência.