Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 14 de janeiro de 2023
A nova presidente da Caixa, Maria Rita Serrano, tomou posse criticando as políticas de privatização e defendendo o papel anticíclico dos bancos públicos. Em uma cerimônia que contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ela deu poucas pistas sobre seus planos para a instituição, mas programas como o Minha Casa Minha Vida e o Fies foram citados pelos presentes.
Funcionária de carreira com 33 anos de Caixa, Serrano afirmou que comandar a instituição não será fácil, mas que “o desafio de modernizar o banco e ampliar a atuação no sistema financeiro e melhoria de vida da população é auspicioso”. Ela comentou que o Brasil viveu um longo “inverno” nos últimos anos e que “muitos ainda querem o mau tempo, mas o sol voltou a brilhar mais uma vez”.
Falou ainda que o banco sobreviveu a governos liberais e tentativas de privatização e lembrou do trabalho hercúleo feito pelos funcionários na pandemia, para o pagamento do Auxílio Brasil.
“A Caixa resistiu à avassaladora política de assédio e medo patrocinada pelo último governo”, afirmou, sem citar diretamente Pedro Guimarães, que comandou o banco durante boa parte do governo Bolsonaro e saiu após denúncias de assédio moral e sexual. “A gestão pelo medo na Caixa acabou”, asseverou Serrano, arrancando aplausos da plateia. Guimarães renegociou diversos contratos da Caixa na área de seguros, fez o IPO da Caixa Seguridade, vendeu a fatia no Pan e defendia a abertura de capital de outras subsidiárias. A sucessora dele, Daniella Marques, ficou apenas seis meses no cargo e focou em investigar as denúncias e estruturar programas voltados para as mulheres.
Citando o economista Ladislau Dowbor, professor da PUC-SP, Serrano afirmou que o sistema financeiro não deve ser um fim, mas um meio de facilitar atividades socialmente úteis. “Intermediação financeira deve servir à economia para alavancagem da produção, serviços e empregos”, comentou. Segundo a nova presidente da Caixa, os bancos públicos são fundamentais e os investimentos estatais podem ser fatores de estabilização econômica. “Por não obedecerem apenas à lógica de mercado, asseguram o mínimo de expansão da demanda agregada, atuando como instrumento de políticas anticíclicas.”
Serrano afirmou que vai reorganizar o banco para cumprir com excelência o gerenciamento de programas de renda do governo, o Minha Casa Minha Vida, ampliar a parceria com Estados e municípios, promover a inclusão bancária e avançar em tecnologia para oferecer melhores serviços e atendimento aos clientes. “Vamos buscar a rentabilidade do negócio, com equilíbrio das operações comerciais e ações de inclusão.”
Consignados
A presidente é crítica, por exemplo, da oferta de crédito consignado para beneficiários do Auxílio Brasil, que foi adiante em outubro do ano passado, antes do segundo turno das eleições presidenciais. Em rápida entrevista coletiva após a posse, ela confirmou que o programa está suspenso.
“O Ministério do Desenvolvimento Social vai revisar o cadastro. Não é de bom tom que
a gente mantenha. O juro para essa modalidade é muito alto. Estamos suspendendo para reavaliar essa questão dos juros”, afirmou. Ela negou, porém, que o governo estude um perdão da dívida, como chegou a ser ventilado.
Serrano também comentou que Caixa e Banco do Brasil terão papel fundamental no Desenrola, programa de renegociação de dívidas que está sendo formulado pelo governo federal. “Estamos participando de várias reuniões para desenhar o programa. Até o começo de fevereiro a Fazenda deve ter o desenho do Desenrola”, afirmou.
Em seu discurso, o presidente Lula afirmou que a Caixa tem um papel extraordinário na economia brasileira e que pôde sentir isso mais de perto quando criou o Minha Casa Minha Vida e que está “convencido que a Caixa vai voltar a crescer, a bancarização do povo pobre vai aumentar muito”.
“Vamos contar com a Caixa Econômica outra vez para que o banco volte a ser muito mais forte, que empreste dinheiro muito mais barato, com juros mais baratos, sem perder dinheiro, pois precisa dar lucro pra sobreviver. Você [Rita] vai conduzir essa casa com capacidade. O Brasil precisa de bancos
públicos.”