Terça-feira, 25 de março de 2025
Por Redação O Sul | 23 de março de 2025
O reajuste da Selic (taxa básica de juros) de 13,25% para 14,25% ao ano, anunciado na última quarta-feira (19), vai encarecer em poucos reais por mês as parcelas de financiamentos e empréstimos. De acordo com cálculos da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), a variação anual nas principais linhas de crédito para pessoas físicas será inferior a 2%.
Segundo Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Anefac, o impacto é discreto porque existe uma diferença muito grande entre a Selic e as taxas de juros cobradas dos consumidores que, na média da pessoa física, vão atingir, 123,58% ao ano (6,94% ao mês), provocando uma variação de mais de 800% entre as duas pontas. Isso acontece porque as instituições financeiras já operam com margens elevadas para compensar riscos e custos operacionais.
Para ilustrar o efeito da quinta alta consecutiva da Selic, o especialista fez simulações das principais modalidades de crédito usadas pelos brasileiros: compras a prazo no varejo, cartão de crédito, cheque especial, crédito direto ao consumidor para a compra de veículos e empréstimo pessoal em bancos e financeiras.
A taxa para financiar a compra de um carro de R$ 40 mil em banco, no prazo de 60 meses, por exemplo, passa para 2,10% ao mês, deixando o veículo R$ 1.347,01 mais caro.
As simulações demonstram que o maior impacto será sentido em operações de maior valor, como financiamentos de veículo.
Embora o efeito de cada aumento da taxa seja limitado, a persistência dessa trajetória de alta tem efeitos cumulativos no mercado de crédito. Os ajustes elevam os spreads bancários —a diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa cobrada dos tomadores— e ainda impõe critérios de análise mais rigorosos na concessão de crédito.
Para as empresas também há impacto. A taxa média de juros deve aumentar de 56,93% para 58,39% ao ano. No caso de um empréstimo de capital de giro de R$ 50 mil por 90 dias, as empresas pagarão R$ 124,55 a mais. No caso de duplicatas do mesmo período no valor de R$ 20 mil, serão R$ 49,78 a mais de juros.
Segundo João Peixoto Neto, da Ouro Preto Investimentos, o novo aumento dos juros pode levar a um cenário de crise para muitas empresas e elevar o número de recuperações judiciais, que já bateram recorde no ano passado.
Ao longo de 2024, os pedidos de recuperação judicial tiveram um aumento de 61,8% em relação a 2023, com 2.200 pedidos, segundo a Serasa Experian, o maior desde o início da série histórica, em 2014.
Peixoto Neto afirma que os maiores bancos devem limitar o crédito, e a tendência é que as empresas recorram cada vez mais ao mercado de capitais, por meio de fundos de crédito privado, como os FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios).
A Selic é definida pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central e serve como referência para diversas operações financeiras no país. A taxa influencia diretamente o custo do crédito, os investimentos financeiros, a inflação e o controle da oferta de moeda na economia.
Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a inflação, reduzindo o consumo e os investimentos. Por outro lado, quando reduz a taxa, busca estimular a atividade econômica. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.