Sexta-feira, 29 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 19 de agosto de 2024
Uma nova variante do vírus HIV, causador da aids (síndrome da imunodeficiência adquirida, na sigla em inglês), já circula no Rio Grande do Sul e em outros dois Estados – Rio de Janeiro e Bahia. A conclusão é de um estudo da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que publicou artigo sobre o assunto em uma de suas revistas científicas.
Ao todo, foram encontrados até o momento ao menos quatro registros. A nova cepa combina genes dos subtipos “B” e “C” do HIV, que predominam no Brasil. Por esse motivo, é chamada de “recombinante”. Coautora da pesquisa, a bióloga Joana Paixão Monteiro Cunha ressalta:
“O que chama a atenção para o surgimento dessa forma é a taxa de dupla infecção. Indivíduos estão se contaminando e recontaminando. Para que surjam variantes como a relatada no estudo, é preciso que dois subtipos se encontrem e reproduzam em um mesmo organismo hospedeiro, mesclando características genéticas de ambos”.
Aina segundo Joana, os vírus recombinantes podem ser únicos, quando encontrados em um único indivíduo que passou por reinfecção, ou viáveis-circulantes, quando se tornam versões transmissíveis. É o caso da nova variante descoberta, agora denominada “CRF146-BC”.
Ainda não se sabe se a variante tem maior transmissibilidade ou virulência, isto é, se progride mais rápido para a fase da doença conhecida como aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), que causou mais de 35 milhões de mortes no planeta – inclusive no Brasil, onde chegou no início da década de 1980.
Segundo Joana, os pesquisadores tiveram acesso apenas ao quadro clínico do primeiro caso descoberto na Bahia e o paciente estava sob tratamento com antiviral, sem indicação de que o vírus recombinante era resistente ao medicamento.
A bióloga acrescenta porém, que certas mutações podem alterar as características do microrganismo. “Ainda não sabemos qual é o impacto dessas novas variantes na epidemia”, diz. Por isso, ela acredita que o estudo serve de alerta tanto para a população quanto para os órgãos responsáveis pelo controle epidemiológico do HIV.
Ela também enfatiza a necessidade de programas que reforcem medidas preventivas, como uso de preservativos em relações sexuais e o não compartilhamento de seringas durante o uso de drogas injetáveis, por exemplo. São procedimentos evitam a infecção e devem ser incentivadas também entre o público soropositivo, a fim de conter os casos de reinfecção.
Saiba mais
O vírus recombinante foi descoberto em 2019, durante um estudo populacional no qual os pesquisadores (incluindo Joana) analisaram cerca de 200 amostras de pacientes infectados e que passavam por acompanhamento no Hospital das Clínicas de Salvador (BA).
Após encontrar a variante, os cientistas compararam as informações do genoma do vírus com bancos de dados públicos que contêm sequências genéticas do HIV. “Tínhamos nesses bancos de dados, outras três amostras com exatamente a mesma estrutura dinâmica que o vírus encontrado na Bahia”, detalha a especialista.
Ela faz a ressalva de que nenhum dos indivíduos abrangidos pelo estudo é “paciente-zero” da nova capa, ou seja, não foram infectados por dois subtipos de HIV que acabaram se recombinando. Trata-se de quatro casos resultantes da transmissão da “CRF146-BC”.
(Marcello Campos)
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