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Por Redação O Sul | 2 de setembro de 2018
Como não existe solução mágica, a ferramenta mais afiada para se melhorar um País é, talvez, a mais manjada de todas: o voto. Pelo menos para os jovens, que participaram de uma enquete feita pelo Unicef com 16,3 mil pessoas espalhadas pelas cinco regiões do Brasil para saber qual seu interesse em votar para presidente, governador e deputados federais e estaduais. Ainda que o número de jovens eleitores aptos a votar tenha diminuído 14,4% em 2018, o resultado do levantamento é alentador: 91% acreditam no voto. Desses, 59% disseram que decidiram votar “para mudar o País”. Os outros falaram apenas em participar do processo eleitoral
Encomenda pelo jornal O Globo e aplicada em 1.919 municípios, a enquete foi divulgada e apresentada pela ferramenta U-Report, entre os dias 28 e 30 de agosto de 2018, via Messenger (Facebook) e SMS em forma das seguintes questões pré-definidas a um público de 42 mil usuários: “Você se sente representado/a por algum candidato/a?”; “Você discute participação política na escola?”; “Você vota nestas eleições?” e “Por que decidiu votar?”.
Quando perguntados se se sentem representados por algum candidato, 60% dizem que não. Esse número é ainda maior quando respondidos por meninas (65%). Desses, quase metade (44%) culpam candidatos que não cumprem promessas, enquanto outros 32%acham que todos são corruptos, com propostas ruins (10%) e que nunca voltam à comunidade (9%). Para 6% dos entrevistados, o motivo está no fato de haver poucas mulheres candidatas. A participação política desses jovens na escola também é medida pela enquete. Quase 70% dos entrevistados dizem “não discutir” ou “discutir muito pouco” dentro da sala de aula.
Visão dos jovens
Ao mesmo tempo em que deseja ser médica, Sâmela Acsia Ribeiro, 16 anos, também sonha que mais profissionais da área possam ajudar a resolver os problemas dos habitantes de Envira, no Amazonas, onde ela vive junto da família e a outros 19 mil habitantes.
A preocupação com a saúde vai além da profissão: desde 2012, a jovem faz um tratamento contra febre reumática e sopro no coração. Os exames que ajudam no combate às doenças só estão disponíveis em Rio Branco, no Acre, a mais de 360 quilômetros da pequena cidade.
Mesmo não sendo obrigada a votar nesta eleição, Luiza Mello, moradora de Foz de Iguaçu (PR), fez questão de tirar o título e participar da escolha dos governantes para os próximos anos. Com 18 anos recém-completos, a jovem votará pela primeira vez. “Por causa da situação que o país atravessa, algo precisa ser feito, e os jovens têm que participar desse processo. Então eu passei a me inteirar mais das propostas e buscar aqueles candidatos comprometidos com a educação”, disse ao Globo.
A maior preocupação de Felipe Caetano para as eleições de outubro são as propostas dos candidatos para a infância e a juventude. O jovem de 16 anos, aluno do 2º ano do ensino médio, tirou o título de eleitor em março deste ano para tentar mudar a situação de crianças que enfrentam a dura realidade do trabalho infantil.
Dos nove aos 13 anos, ele trabalhou como garçom numa barraca de praia no município de Aracruz, no Ceará. “Milito contra o trabalho infantil porque sou egresso dele. Sei que, quando a gente é pobre, precisa trabalhar ou não temos nada. Ouvi muito isso da minha família, inserida numa cultura que vê com normalidade a presença das crianças no mercado de trabalho”, reflete Felipe.
Morador de Catalão, no interior de Goiás, o jovem Samuel Souza, de 16 anos, já tem o candidato escolhido. “Eu me senti no dever de tirar o título este ano, já que ele será decisivo para o país e para o meu estado. Não temos nenhum candidato decente. Escolhi o que eu acho que é melhor para o Brasil no momento, principalmente pela questão da corrupção”, afirmou o jovem, que se considera adepto da ideologia de direita.
De acordo com o cientista político e professor da Universidade de Brasília (Unb) David Fleischer, a enquete revela a disposição dos jovens de mudar os rumos do país ainda que de maneira menos atuante nas ruas:
“O que me chamou mais a atenção foi o desejo desses jovens de lutar para mudar o país. Cinquenta e nove por cento expressaram essa vontade. É uma visão bem importante o fato de eles pensarem que seu voto pode ajudar.”