Quinta-feira, 06 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 15 de junho de 2019
“Soldado não escolhe missão; ele cumpre”, assim reagiu o general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira à sua nomeação para ser o ministro-chefe da Secretaria de Governo. Ele reuniu os subordinados na sexta-feira (14) no CMSE (Comando Militar do Sudeste) e começou a se despedir. Aos generais reafirmou por escrito seu “comprometimento com o Exército Brasileiro e com o Brasil, cumprindo sempre todas as ordens que lhe forem determinadas”. Amigo do presidente Jair Bolsonaro, Ramos vai se licenciar do Exército.
O senhor já conversou com o presidente sobre a Secretaria de Comunicação e sobre as relações com o Congresso? Como o senhor vai atuar nessas áreas?
“Não, ainda não. Vou encontrá-lo. Acabei de ser nomeado. Vou conhecer primeiro a estrutura da Secretaria de Governo antes de emitir qualquer juízo de valor sobre qualquer questão”.
Como foi para o senhor substituir o general Santos Cruz?
“Conversei com o Santos Cruz. Somos amigos. Ele entendeu que recebi uma missão e vou cumpri-la. Sou um soldado. E soldado não escolhe a missão. Estava apaixonado pelo comando em São Paulo, mas acredito que minha ida a Brasília é mais importante, agora, para o governo e para o Brasil”.
General, o senhor é o segundo general da ativa nomeado por Bolsonaro e o primeiro do Alto Comando. Como fica a relação do senhor com o Exército?
“Está havendo muita confusão. Não serei um general da ativa no governo. Estarei licenciado, não usarei farda e não participarei de nenhum processo decisório no Alto-Comando do Exército. Na próxima semana, vou a Brasília e me apresentarei ao comandante, general (Edson) Pujol, de quem receberei a missão. Prestarei continência ao comandante. Essa é a liturgia.”
História
Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira era o nome que todos no Exército entenderiam se vissem nomeado para o lugar de Santos Cruz. Só ele diminuiria o impacto da demissão do ministro ofendido e maltratado pela rede bolsonarista da internet.
Trata-se de um general com “cinco estrelas” no ombro: as quatro da carreira e a quinta da amizade com o presidente Jair Bolsonaro. Os dois se conhecem desde 1973, quando entraram na ExPCEx (Escola Preparatória de Cadetes do Exército). O infante Ramos é o homem que, além de frequentar a casa e o Palácio, tem liberdade para aconselhar o artilheiro Bolsonaro.
Em 2018, a 20 dias da campanha eleitoral, Ramos fez um pronunciamento afirmando que a lei tinha de “ser cumprida, independentemente de quem está sendo atingido por ela”. “Não podemos transigir com as leis vigentes, buscando atender a interesses pessoais ou até mesmo político-partidários.”
Era um recado contra a possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser candidato, apesar de preso e condenado pela Lava-Jato. Ramos disse então: “Não temos lado. Quando me perguntam, general, qual o seu partido, qual o seu candidato? Eu digo: meu partido é a Pátria; meu candidato é o Exército”. O cidadão, no entanto, torcia em silêncio pela vitória do amigo.
No peito de Ramos, ele ostenta a marca da ala militar do Planalto: a insígnia de paraquedista. Ele a traz em um círculo preto, a indicar que o militar é ainda Força Especial. Ou seja, para ele, não há tarefa que não possa ser executada. Esteve ainda no Haiti assim como outros três colegas de Esplanada: Augusto Heleno (Gabinete de Segunda Institucional), Floriano Peixoto (Secretaria-Geral da Presidência) e Fernando Azevedo e Silva (Defesa).
Ramos é discreto e compartilha das críticas da ala militar a Olavo de Carvalho, o guru dos Bolsonaro. Com a experiência de quem passou pela assessoria parlamentar do Exército, cultiva contatos com o mundo político e sabe da importância de mantê-los.