Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 11 de novembro de 2024
Pesquisadores usaram dados dos núcleos de gelo da Antártida (amostras de camadas de gelo retiradas do interior das geleiras), cobrindo os últimos dois mil anos
Foto: Reprodução1,5ºC. Esse é o chamado “limite seguro” das mudanças climáticas. Ou seja, a temperatura média global não pode aumentar mais do que isso até o final do século para evitar os piores efeitos da crise do clima, causada pela ação humana e pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.
Mas um estudo recente sugere que já estamos mais perto desse limite do que imaginávamos. Publicado na revista “Nature Geoscience” nesta segunda-feira (11), a pesquisa indica que o aquecimento global provocado pelo homem pode ter alcançado 1,5°C até o final de 2023. O dado leva em consideração a temperatura média do planeta antes de 1.700.
Para chegar a essa conclusão, pesquisadores usaram dados dos núcleos de gelo da Antártida (amostras de camadas de gelo retiradas do interior das geleiras), cobrindo os últimos dois mil anos, o que ajudou a entender melhor a relação entre o aumento de CO2 na atmosfera e o aumento da temperatura global.
Isso só é algo possível de ser feito porque esses núcleos contêm bolhas de ar que ficaram aprisionadas nessas camadas de gelo ao longo dos últimos milhares de anos, antes até mesmo da última era glacial, preservando uma espécie de “fotografia” da atmosfera de épocas passadas.
Assim, ao analisar os gases dessas bolhas, é possível ver, por exemplo, como o CO2 na atmosfera aumentou ao longo dos milênios.
“E esses dados podem ser combinados com os registros modernos de observações atmosféricas, formando um registro contínuo. No período atual, é possível observar uma forte relação linear entre as mudanças de temperatura na superfície e as concentrações atmosféricas, uma relação que pode ser usada para estender os registros de temperatura ao longo do tempo”, explica ao g1 o autor do estudo Piers Forster, diretor do Centro Priestley para os Futuros Climáticos, um instituto de pesquisa inglês.
O estudo também aponta que, desde 1850, houve uma relação linear entre a quantidade de CO2 e o aumento da temperatura. Os cientistas afirmam que, usando esses dados de gelo, podemos ter uma ideia mais precisa de quanto do aquecimento atual é causado pelas emissões humanas.
No artigo, eles explicam que essa abordagem é mais exata porque as medições de temperatura entre 1850 e 1900 eram muito limitadas e imprecisas, com poucos dados e mudanças rápidas nas temperaturas devido a erupções vulcânicas.
Já os dados de CO2 obtidos dos núcleos de gelo são mais confiáveis, e é por isso que eles foram usados como base para a pesquisa.
“Nosso método permite retroceder ainda mais no tempo, descobrindo que cerca de 0,18°C de aquecimento ocorreram antes do período de 1850-1900”, acrescenta Forster. Com isso, os pesquisaram também estimaram que, até 2023, o aquecimento causado pelo ser humano já havia atingido cerca de 1,49°C em comparação aos níveis pré-industriais, o que significa que estamos muito perto do limite de 1,5°C.
Na semana passada, o observatório europeu Copernicus divulgou inclusive dados que indicam que o mundo está prestes a vivenciar mais um ano de temperaturas recordes. Segundo o Serviço de Mudança Climática (C3S), é praticamente certo que 2024 será o primeiro ano em que a temperatura média global ultrapassará 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
No entanto, ao contrário do estudo publicado na Nature, o Copernicus não leva em consideração as informações provenientes dos núcleos de gelo da Antártida. Por isso, Forster alerta que se essa tendência continuar, é possível que o limite de 1,5°C seja atingido muito em breve, o que coloca em risco os compromissos globais assinados no Acordo de Paris de limitar o aquecimento global.
“Precisamos de políticas nacionais fortes, além de mecanismos de apoio bilaterais e multinacionais. É essencial manter a meta de 1,5°C, mesmo que esse limite seja superado em breve. Isso significa, em termos de políticas, controlar o quanto esse limite será ultrapassado e minimizar os impactos através de medidas de adaptação específicas”, diz Piers Forster, diretor do Centro Priestley para os Futuros Climáticos.