Pode parecer cansativo pensar em Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte Um como o sétimo filme de uma franquia. Qualquer pessoa pode pensar que estão espremendo a história ao máximo, sem limites – o próprio Tom Cruise disse que pretende continuar na saga até seus 80 anos. Mas não é o que acontece: 27 anos depois do lançamento do primeiro filme, a franquia ainda surpreende e empolga.
Prova disso é o excelente resultado de Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte Um, que chegou aos cinemas nessa semana. Novamente dirigido por Christopher McQuarrie (de Efeito Fallout e Nação Secreta), o longa-metragem coloca o agente Ethan Hunt (Cruise), ao lado de seus parceiros de longa data, numa missão que promete ser a mais perigosa de todas.
Aqui, o grupo precisa se unir para encontrar duas metades de uma chave. Ela tem o poder absoluto de controlar uma inteligência artificial que está saindo do controle e que, mais do que ter vida própria, pode ameaçar governos e a segurança de países. Hunt e seus parceiros precisarão desconfiar de tudo e de todos: de seus líderes, dos chefes de governo e até mesmo do que um dos integrantes do grupo diz em uma frequência de rádio.
Paranoia e ação
A paranoia, em Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte Um, toma conta. É como se fosse uma versão digital de O Enigma de Outro Mundo, filme de John Carpenter em que um alienígena toma a forma das pessoas em uma estação científica na Antártica. No novo filme de Tom Cruise, a inteligência artificial se passa pelos outros, cria intrigas e, pior ainda, novas realidades. Nada é exatamente o que parece – e Ethan Hunt está enfraquecido frente ao desconhecido. Como enfrentar um monstro digital sem rosto e também sem corpo?
Mas não pense que dentro dessa trama quase “orwelliana”, que tem o digital como inimigo, não há espaço para a ação física – como o de costume em Missão: Impossível. A dupla McQuarrie-Cruise, que elevou o tom e a qualidade dos filmes da saga, não decepciona: assim como acontece em John Wick, a ação é bem coordenada e limpa, sem exagero de câmera tremida ou de efeitos. Dá pra entender o que está acontecendo na tela.
Muito disso, é claro, nasce a partir da disposição de Tom Cruise em fazer suas próprias cenas de ação. Quase todas elas são enérgicas e eficientes, com McQuarrie sabendo como filmar seu astro em situações extremas, incluindo um salto de moto de um desfiladeiro.
Para notar essa qualidade acima da média, faça um exercício simples: compare a cena da perseguição de carros nas ruas da Itália neste filme com uma cena muito similar que acontece em Velozes & Furiosos 10, também nas ruas do país europeu. Mesmo sem uma gigantesca bomba nuclear rolando pelas ruas de Roma, como acontece no filme de Vin Diesel, há mais verdade em Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte Um. A cena se estende um pouco mais do que deveria, mas, ainda assim, te deixa tenso na ponta da poltrona.
Há, ainda, a cena do trem, já no final, quando McQuarrie brinca com as possibilidades de um acidente dessas proporções. Ainda que a história por trás dessa cena seja um tanto quanto amarga, com a explosão de uma ponte na Polônia, e tenha um certo excesso de efeitos especiais, é surpreendentemente empolgante. Talvez a melhor sequência de ação da franquia logo após a histórica escalada de Tom Cruise no exterior do prédio Burj Khalifa.
Muito disso acontece, também, por conta do bom trabalho dos atores. Cruise desperta uma torcida natural: virou o tiozão simpático e em forma, que faz algumas coisas malucas. Difícil não gostar de seus personagens. Ainda há o acréscimo mais do que positivo no sétimo filme: Hayley Atwell (a Peggy Carter da Marvel), que interpreta a divertida e desajeitada ladra Grace. Dá vontade de ver mais – ela deixa as cenas de ação ainda mais intensas.
Após o acerto de Top Gun: Maverick em 2022, Tom Cruise tem tudo para emplacar outro grande sucesso em 2023. É um filme que celebra o cinema. “Eu cresci vendo filmes na tela grande. É assim que os faço, e gosto da experiência”, disse ele ao The Sydney Morning Herald. Por isso, não surpreende o desejo de filmar até os 80. Se os filmes forem tão bons quanto tudo que Tom Cruise vem produzindo, ninguém vai reclamar.