Sábado, 11 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 15 de maio de 2022
Desde que a mãe recebeu o diagnóstico de Alzheimer, há 13 anos, a fotógrafa e laboratorista Rosangela Andrade lida com a situação a partir de um ponto de vista moldado pelo próprio ofício. Para ela, uma pessoa que não registra as coisas não pode ter memória. A partir dessa perspectiva, ela decidiu ensinar Therezinha Motta Andrade, de 87 anos, a fotografar.
Com uma câmera na mão, a dona de casa passou a acompanhar a filha nas andanças pelas ruas de São Paulo. No ambiente escuro e avermelhado da sala de revelação, via as imagens surgindo e se fixando sobre o papel fotográfico. Uma composição de cenas, contrastes e rostos que, pouco a pouco, se tornava concreta (e, às vezes, familiar) aos olhos de Therezinha.
“A ideia foi criar uma espécie de jogo da memória com as fotos reveladas”, diz Rosangela. “Não bastava encontrar a mesma imagem sobre a mesa cheia de cenas; pedia para ela ir falando quem eram as pessoas. Foi uma tentativa de manter minha mãe mais tempo entre nós”, diz a fotógrafa.
Encontrar formas de sustentar a memória viva e funcional é o desafio criativo que move milhares de cientistas, médicos e familiares de pacientes com Alzheimer ao redor do mundo. Assim, como desenvolver métodos de detecção precoce da doença degenerativa que afeta as mais nobres funções cerebrais, como memória, comportamento, linguagem, raciocínio, entre outras.
No Brasil, há cerca de 1,2 milhão de pessoas com a doença (a maior parte sem diagnóstico), segundo dados do Ministério da Saúde. Novos exames de sangue, mais baratos que os recursos atuais, surgem como alternativa para auxiliar os médicos na confirmação do diagnóstico de Alzheimer, nos casos em que há dúvidas.
Neste mês, a FDA aprovou nos Estados Unidos um teste para estimar os níveis de placas amiloides que se acumulam, em grandes quantidades, no cérebro de quem tem a doença. O exame é comercializado pela empresa Fujirebio.
No Brasil, a Dasa acaba de lançar um produto semelhante. O exame procura identificar dois tipos da proteína beta-amiloide (a 40 e a 42), considerada um biomarcador da doença. Um dos principais atrativos é evitar a realização da punção lombar para coleta do liquor, procedimento necessário na minoria dos casos. Além de ser menos invasivo, o exame de sangue custa cerca de R$ 1,5 mil, um terço dos métodos de confirmação de diagnóstico disponíveis hoje.
Apesar da corrida pela detecção precoce da doença, os médicos alertam que o diagnóstico do Alzheimer é complexo e continua a ser majoritariamente clínico. “Em cerca de 80% dos casos, o diagnóstico é feito a partir de um exame físico completo, da análise do histórico dopaciente, de exames de sangue para descartar outros problemas e da avaliação neuropsicológica, que serve para quantificar as queixas de memória”, diz o neurologista Ivan Okamoto, do Núcleo de Excelência em Memória do Hospital Israelita Albert Einstein.
“Não é correto dar a ideia de que o diagnóstico só pode ser feito com exames subsidiários e inacessíveis à maioria”, diz Okamoto. “Exames adicionais, como uma biópsia do liquor ou um exame de imagem (PET amiloide) para avaliar a formação de placas amiloides no cérebro, só são necessários quando restam dúvidas ou se a pessoa quer ter uma confirmação do diagnóstico por outro método. A acurácia desses exames é de, aproximadamente, 95%”, diz o neurologista.
“Para ter 100% de certeza, o único jeito é fazer uma análise do tecido cerebral após o falecimento”. O médico explica que os exames adicionais também podem ser úteis na fase de comprometimento cognitivo leve, após a qual o paciente pode ou não evoluir para a doença.
“Nessa fase pouco sintomática, é interessante utilizar os exames subsidiários para tentar caracterizar esse comprometimento cognitivo leve e saber se ele vai ou não evoluir para a doença”, diz Okamoto. Se não for o caso, a pessoa não precisa tomar remédios para Alzheimer e ficar exposta a efeitos colaterais como problemas cardíacos, gastrointestinais, entre outros.