Sexta-feira, 17 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 7 de março de 2021
Mais de 43 mil brasileiros precisam de um transplante de órgão. E o número de doadores diminuiu na pandemia.
A visão do Ruan Pablo, 16 anos, vem se afunilando dia a dia, ano após ano. “Quando a gente descobriu o problema, ele já tinha perdido 96% da visão. Aí de quando descobriu e que ele está nessa espera, ele já perdeu mais 2%. Pode acontecer de aumentar o grau da doença, a doença piorar, no caso”, conta a operadora de caixa Suelen Ribeiro dos Santos, mãe de Ruan Pablo.
A mãe diz que a esperança está na fila do transplante. Mas a demora desanima. Já são dois anos sonhando com uma doação de córnea. “Ele não pode fazer atividade física. Ele está na idade que poderia está fazendo um jovem aprendiz, também não consegue”, diz Suelen.
Os dados do Registro Brasileiro de Transplantes mostram que o número de doações de órgãos e tecidos despencou em 2020. A doação de córneas caiu em mais de 50% na comparação com 2019. No grupo dos órgãos, a maior queda foi a doação de pulmão, depois rim, coração e fígado.
O transplante mais realizado com doador vivo, o de rim, foi suspenso em 2020 para proteger os doadores do risco de serem contaminados pelo coronavirus em hospitais. Isso fez o número de transplantes renais, entre vivos, cair ao menor patamar dos últimos 36 anos.
Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, ao mesmo tempo em que o número de doações caiu, a taxa de mortalidade de quem está na fila de espera aumentou de 10 a 30%.
“Em 2020, quase a metade das famílias falaram não à doação de órgãos. Então, nós precisamos mudar esse cenário. Atualmente, qualquer extração de órgãos, qualquer captação, só é realizada após a autorização familiar, claro, e após a liberação negativa do resultado da Covid-19. Isso trouxe uma segurança muito maior tanto para as equipes profissionais que vão realizar o procedimento, como também para os pacientes que vão receber aquele órgão, sabendo que vão receber um órgão sem risco de transmissão da Covid-19”, explica José Huygens Garcia, presidente da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos.
Ailla teve hepatite fulminante e não podia esperar. Ela diz que entrou no bloco cirúrgico com 30% de chance de vida e saiu para testemunhar o valor da solidariedade. “Como a gente nunca sabe o dia de amanhã, aproveite o presente, aproveite o aqui e o agora, para você já conscientizar a sua família do seu desejo de ser um doador de órgãos, porque esse ato pode salvar muitas vidas”, afirma a psicoterapeuta e escritora Ailla Pacheco.