Quinta-feira, 09 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de maio de 2015
Condenada a 18 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava-Jato, a doleira Nelma Kodama apelou ao cantor Roberto Carlos. Ao depor no segundo e último dia da CPI da Petrobras em Curitiba (PR), nesta terça-feira (12), ela levantou os braços e cantarolou “Amada Amante”, clássico de 1971.
Nelma já estava sendo acompanhada por alguns deputados quando o presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), a repreendeu: “Nós não estamos em um teatro”, disse.
A bronca pouco adiantou. Na mesma sessão, ela também levantou e, de costas, mostrou a calça para explicar que não escondeu 200 mil euros na calcinha, mas nos bolsos. Por fim, pediu o fim da corrupção.
O depoimento da doleira não foi a única atração da CPI. Com um terço na mão, o ex-deputado Luiz Argôlo (SD-BA) citou Jesus Cristo e garantiu que “os humilhados um dia serão exaltados”. André Vargas (ex-PT), também ex-deputado, recorreu ao filósofo romano Sêneca (4 a.C.-65) para justificar seu silêncio: “As grandes injustiças se corrigem com o tempo, paciência e silêncio”, citou.
Os três, assim como os outros presos que falaram na terça-feira, quase não apresentaram novidade em relação ao que já declararam à Justiça.
Presa desde março de 2014, Nelma, que se autointitulava “a última grande dama do mercado” e foi denunciada por movimentar 11 milhões de reais no mercado negro de câmbio, prometeu apontar os responsáveis pelo “sistema de corrupção” do qual participou. Mas só se conseguir fechar um acordo de delação premiada.
Ela também fez elogios ao juiz federal Sergio Moro: “Mesmo tendo sido sentenciada a uma pena pesada, eu o admiro. Eu acho que estão tentando virar [o jogo]”.
A canção do Roberto veio à tona quando questionada sobre o seu relacionamento, de quase nove anos, com o doleiro Alberto Youssef, considerado peça central no esquema de desvios da Petrobras. “Tem até uma música do Roberto Carlos: Amada Amante, a amada amante. Não é verdade? Quer coisa mais bonita que ser amante? Você ter uma amante que você pode contar com ela, ser amiga dela”, disse.
Inocentes.
Argôlo e Vargas admitiram conhecer Youssef, mas afirmaram que não sabiam do envolvimento do doleiro com os esquemas de corrupção. Vargas disse que conheceu o doleiro “vendendo coxinha no aeroclube de Londrina”. Já Argôlo afirmou que o conheceu como empresário e proprietário de hotéis na Bahia, não como doleiro.
“Se agora ele é um criminoso, se é doleiro, se fez delação, não coube a mim entrar no Google e fazer uma consulta pelo seu CPF”, reclamou.
Algumas testemunhas chegaram a discutir com membros da CPI. O ex-deputado Pedro Corrêa (ex-PP), condenado no mensalão, reagiu quando Onyx Lorenzoni (DEM-RS) disse que seu partido “bota na rua os corruptos”. “Talvez seja hoje. Eu fui do partido de vossa excelência e conheço bem a história”, rebateu Corrêa, que foi filiado ao PFL, antecessor do DEM, até 1995. (Folhapress)