Espécie de seguro contra crises, as reservas internacionais do Brasil atingiram na semana passada o menor nível desde abril de 2016. O movimento de queda, iniciado em agosto, é incentivado pela equipe econômica e pelo Banco Central (BC), num momento de alta volatilidade do dólar e de necessidade de maior liquidez para a moeda americana. Para especialistas, apesar da redução recente, a situação do País é confortável. Hoje, as reservas brasileiras estão em US$ 361,7 bilhões, acima do mínimo considerado ideal.
Em abril de 2016, as reservas somavam US$ 361,6 bilhões. Desde então, o montante foi subindo até atingir o pico de US$ 390,5 bilhões em junho deste ano. De lá até agora, elas caíram US$ 28,7 bilhões. Em agosto, o Banco Central quebrou um tabu de dez anos e passou a vender dólar à vista.
Foi quando a moeda teve a maior alta em 12 meses, afetada pela guerra comercial, crise em torno da Amazônia e o cenário político na Argentina.
A diminuição das reservas reduziu a dívida do país, que caiu para R$ 5,5 trilhões em outubro. O ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a dizer, durante a transição, que poderia vender reservas caso o dólar atingisse “R$ 4,20, R$ 4,30, R$ 5” para recomprar a dívida interna.
Em setembro, o câmbio continuou pressionado. As contas com o resto do mundo foram revistas pelo Banco Central e apontaram déficit de 3%, quase o dobro que vinha registrando. Esse fator fez o real se desvalorizar novamente.
Para analistas, a atuação do BC está correta, ao ofertar mais dólares ao mercado para conter a alta da moeda. Eles salientam, porém, que é preciso ter cautela para usar a dose certa. Manter as reservas em nível muito elevado tem o custo de carregamento, mas o país não pode abrir mão desse colchão.
“É o momento certo para ousar. Tem volatilidade grande, com câmbio alto. Mas tem sempre que estar de olho no nível e no custo dessas reservas”, disse Josué Pellegrini, da Instituição Fiscal Independente (IFI), ligada ao Senado.
FMI
Pelas contas do FMI, o nível adequado das reservas brasileiras seria de US$ 243,2 bilhões. Mas o Fundo admite uma margem que pode superar em 50% esse valor, ou seja, US$ 364,8 bilhões. Por esse critério, o país estaria com nível adequado de suas reservas.
Responsável pela acumulação das reservas na década passada, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles lembra que deixou US$ 290 bilhões em 2010.
“O Brasil tem um nível de reservas adequado, tem algum espaço para o uso de reservas, como está sendo feito. Mas é importante que esse número não baixe de US$ 290 bilhões e se mantenha acima dos US$ 300 bilhões, num nível mais confortável possível”, disse Meirelles, hoje secretário estadual de Fazenda de São Paulo.
Reserva internacional é o dinheiro que o Banco Central mantém guardado para proteger o Brasil de turbulências internacionais. A maior parte está aplicada em títulos do Tesouro Americano, que são fáceis de vender e mais seguros.
Há outros investimentos como os recursos que o Brasil tem no Fundo Monetário Internacional e no BIS, o BC dos Bancos Centrais. Parte das reservas está em ouro. O BC não mantém dólar físico.
Com essa poupança, o Brasil garante que haverá dólares para as empresas daqui garantirem negócios que já estão fechados no exterior em caso de forte turbulência lá fora. As reservas também asseguram moeda para que os bancos façam operações para clientes.
“O BC, quando tinha excesso de dólar, acumulou reservas, e ficou sentado nisso por muitos anos. Agora, faz sentido vender parte das reservas porque elas são um seguro. À medida que o setor privado está acumulando mais dólar, o risco do setor privado tem caído. A dosagem dessa venda é que é a questão principal”, afirmou Tony Volpon, ex-diretor do BC e economista-chefe do UBS no Brasil. “O que não pode é exagerar a mão e vender muitos dólares.”