Sábado, 08 de março de 2025
Por Redação O Sul | 6 de março de 2025
Em busca de melhorar sua popularidade, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva está dando um “tiro no pé” e contratando inflação e juros altos em 2026, ano eleitoral, avalia o economista Gustavo Loyola, que foi presidente do Banco Central (BC) nos primeiros anos do Plano Real.
Para Loyola, sócio da Tendências Consultoria, há um erro de diagnóstico do Palácio do Planalto nas soluções pensadas para reduzir os preços de alimentos e no lançamento de medidas de crédito que tendem a manter o consumo aquecido, anulando parte do esforço do BC para controlar a inflação.
1) A inflação preocupa?
Preocupa. Estamos vendo as expectativas inflacionárias não apenas acima da meta (de 3%, com teto de até 4,5%), mas se deteriorando gradualmente a cada pesquisa Focus (de projeções de mercado). Isso no meio de uma política do BC bastante contracionista, não apenas a que pratica hoje, mas considerando aquilo que está sinalizando nas suas comunicações. Isso mostra que há dificuldade maior para o BC trazer a inflação para o centro da meta.
2) Por qual razão?
A principal é o fato de que o governo está agindo na direção contrária à do BC. A política monetária tem efeito sobre a demanda, que demora um pouco a aparecer. Na medida em que o governo toma medidas fiscais e creditícias que incentivam a demanda, acaba anulando parte do esforço do BC.
Além disso, como não existe uma política fiscal vista pelos analistas como consistente com as necessidades do endividamento público, isso afeta a cotação do real, que se mantém desvalorizado, e exerce pressão altista sobre os preços. É uma situação que preocupa na medida em que o BC virou um cavaleiro solitário lutando contra a inflação.
O governo, liderado por Lula, tem o diagnóstico equivocado, achando que a inflação se controla com medidas intervencionistas. Mas elevando gastos fiscais gera-se ambiente macroeconômico cada vez mais desfavorável à redução da inflação.
3) Quais são as medidas?
A liberação de FGTS de R$ 12 bilhões. Isso é injeção na demanda. Medidas de crédito que o governo está dando, através de programas, como (reformulação) do consignado privado. O BC faz tudo para reduzir a demanda, o crédito, e vem o governo com uma medida contrária àquilo que o BC está buscando.
4) Medidas para impulsionar a atividade podem reduzir ainda mais a popularidade?
Sem dúvida. O governo está encomendando para o ano que vem uma inflação ainda alta e juros altos. Ou seja, dando um tiro no pé. Isso tem lembrado muito o fim do primeiro mandato da presidente Dilma (Rousseff), em que ela fez de tudo para tentar segurar a inflação artificialmente.
Foi reeleita, depois tentou corrigir esses equívocos e acabou se enrolando toda, inclusive com o crime de responsabilidade fiscal, que, junto com a perda de popularidade, acabou levando ao impeachment. O presidente e seus auxiliares têm atrapalhado o combate à inflação.
5) A redução de tarifas de importação ajudaria?
Reduzir tarifas é sempre boa coisa. Pode até provocar redução dos preços. É medida que pode ser importante para regularizar a oferta de algum produto, mas sozinha não vai resolver a inflação.
6) E para controlar a inflação não tem outra opção senão esfriar a economia?
É esfriar a economia e, principalmente, usar a política fiscal para ajudar o BC. Quanto mais a política fiscal é expansionista, mais a política monetária tem que ser contracionista. Isso acaba significando juros mais altos. Então se acaba prejudicando a economia como um todo, para eventualmente beneficiar um ou outro segmento.
7) Mas é possível avançar em medidas fiscais este ano, considerando o Congresso?
Sim. Primeiro, evitar piorar. Porque o governo, a cada dia que passa, anuncia mais gastos. Não significa que sou contra medidas sociais. Mas precisamos lembrar que não tem nada pior para a família de baixa renda do que a inflação, é um imposto que atinge os mais pobres. O governo não pode deixar a inflação subir porque a responsabilidade não é só do BC, é de todos. (O Globo)