Quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de julho de 2020
O Brasil ampliou as exportações de petróleo para a Ásia no primeiro semestre, roubando uma fatia de mercado de rivais que têm promovido cortes recordes nos embarques em meio à queda sem precedentes na demanda causada pela pandemia do coronavírus.
O movimento reflete a crescente influência do Brasil entre os grandes produtores globais de petróleo à medida que massivos projetos offshore no país iniciam produção. O Brasil deve dar uma das maiores contribuições para o aumento da oferta global nos próximos cinco anos entre os países não membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), segundo a Agência Internacional de Energia.
A estatal Petrobras ofereceu a refinarias na Ásia acordos competitivos por seu petróleo de relativamente alta qualidade justo no momento em que a China e outros países reabriam suas economias e enquanto nações no Ocidente entravam em “lockdowns” para conter a disseminação do vírus, disseram operadores de mercado.
A China também tomou vantagem dos menores preços do petróleo em décadas para preencher reservas estratégicas.
“Se nós tivéssemos mais petróleo disponível, a China teria comprado”, disse o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, em respostas por escrito a questionamentos.
Castello Branco disse que não havia como aumentar mais as exportações porque a demanda no Brasil também estava se recuperando. A China é agora o destino de 70% do petróleo exportado pelo País, disse a Petrobras em nota à Reuters.
A Ásia importou uma média de 1,07 milhão de barris por dia de petróleo do Brasil no primeiro semestre, alta de 30% na comparação anual, segundo dados de fluxos de comércio do Refinitiv Eikon.
Os portos asiáticos receberam em junho um recorde de 1,62 milhão de bpd em petróleo do Brasil, quase o triplo do volume em julho de 2019, segundo os dados.
Refinarias da Ásia também têm apetite pelo tipo de petróleo com baixo teor de enxofre que o Brasil vende, uma vez que buscam cumprir com novas regulações para combustível de navios que visam reduzir emissões.
Esse petróleo vem dos produtivos reservatórios do pré-sal, onde a Petrobras e outras grandes petroleiras estão investindo centenas de bilhões de dólares no desenvolvimento da produção.
Isso ofereceu à Petrobras uma oportunidade para ampliar seu mercado mesmo enquanto a Opep e seus aliados, conhecidos como Opep+, cortavam a oferta em um recorde de 9,7 milhões de bpd.
A Petrobras está confiante de que a qualidade de seu petróleo permitirá a ela defender sua maior fatia no mercado mesmo à medida que outros produtores globais começam a produzir mais.
“Houve uma estratégia bem planejada de expandir as vendas de petróleo no mercado asiático”, disse a empresa. “Mesmo que a Opep+ retome seu nível de produção, nós acreditamos que isso terá pouco impacto nas exportações.”
As maiores exportações também fizeram a Petrobras não precisar alugar navios-tanque apenas para armazenar petróleo, uma opção custosa que muitos rivais ao redor do mundo foram obrigados a adotar depois que a demanda desabou durante “lockdowns” e refinarias não queriam mais seu petróleo.
O Brasil também deslocou fornecedores da África Ocidental na disputa pela demanda da China e da Índia, segundo dados desses países.
Mas a recuperação no consumo no Brasil nos últimos meses tem deixado menos petróleo disponível para exportação, o que faz com que as vendas externas possam não ter novo avanço no segundo semestre.
“A China deve parar de recompor estoques nos próximos meses e a demanda por combustível no Brasil vai se recuperar”, disse o chefe de pesquisa upstream na Wood Mackenzie para América Latina, Marcelo de Assis.