Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Lenio Streck | 17 de abril de 2021
Leio nas redes que o Procurador da República Deltan Dallagnol fez fortes críticas à decisão do Supremo Tribunal Federal que anulou, por 8×3, as ações penais contra Lula.
Como se sabe, o Min. Fachin, considerado um defensor ferrenho da Lava Lato (a Força Tarefa comandada por Dallagnol chegou a dizer “Fachin é nosso” – deles, é claro), cumpriu os precedentes da Corte e, tardiamente, anulou as condenações.
Claro que não foi o lado garantista de Fachin que motivou essa anulação. Foi uma estratégia para salvar a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro. Entregou uma cidade para salvar um território maior. Sua estratégia, no entanto, pode dar errado.
De todo modo, Fachin, com sua estratégia, desagradou até mesmo seus aliados lavajatistas. Ou eles estão fingindo que discordam de Fachin. Vai saber.
Dallagnol pintou e bordou durante anos. Ganhou rios de dinheiro em diárias e palestras, muitas vezes usando informações que só ele (e seus colegas) tinha(m)m. E fazia até palestras para grandes bancos. Tudo bem republicano, diziam. Pois é.
Um procurador, colega de Dallagnol, chegou a receber centenas de milhares de reais morando na mesma cidade em que trabalha, o que, em termos de direito administrativo, é bem complicado, para ser generoso na análise.
Ainda na noite depois do julgamento do dia 15 último, Dallagnol, assíduo frequentador das redes sociais onde dá opiniões políticas e conjunturais, escreveu no twitter contra a decisão do Supremo Tribunal. “Meio que” poupou Fachin e meteu o pau na Corte. Ele é especialmente em “pau na Corte”. Joga para a torcida. Vai para a galera.
Uma pérola de Dallagnol, o homem que diz que convicção vale mais do que prova, é que o STF não devia se apegar a questões técnicas (sic). Bah!
Só que um Procurador é exatamente pago para cuidar de “questões técnicas” e não para opinar sobre o acerto ou erro de Tribunais. O cidadão quer um Procurador técnico e não político. Simples.
Duas coisas foram olvidadas por Dallagnol. Primeiro, foi graças a uma filigrana (sic) que ele virou procurador. Não esqueçamos que o ingresso de DD no Ministério Público se deu por ordem judicial. Foi graças a questões técnicas. Bingo.
Por que escrevo “filigrana” (sic)? Porque ele disse, em diálogos com seus colegas, que garantias processuais eram filigranas e o que valia mais em um processo era a política. Que tal?
E a segunda coisa? Também simples: ele usou de todas as artimanhas “técnicas” para escapar da condenação no caso do Power point junto ao Conselho Nacional do Ministério Público.
Dizia Deltan (Deltinha, segundo seus colegas de diálogos): a prescrição é o câncer do direito. É a própria impunidade. OK. OK. Mas, sabem como Dallagnol escapou da punição? Adivinhem? Pres-cri-ção. Esse é o Dallagnol. Malditas questões técnicas. Malditas filigranas.
Mas nas redes sociais ele canta de galo. Devia fazer um recolhimento. Uma autocrítica. E olhar no espelho retrovisor. Por que estou falando nele? Simples. Ele é o protótipo do moralismo que tomou conta do cenário. Claro: Apontando o dedo. O inferno é o outro. A palavra outro, em latim, é alienus. Sim, a culpa é do outro. Por isso a palavra “alienação”. Mas, enfim, alienação é para os “outros”. Deve ser coisa de “filigrana”.
Nem vou falar de Moro. Esse é hors concurs em manobras. É o Edi Piá. Apitou o jogo em um campo que não era o dele (o STF disse que foi incompetente por 8×3), prendeu o goleiro do outro time, ensinou o centroavante a chutar o pênalti e depois assumiu um cargo na direção do time adversário.
Os dois são craques!