Para Bittencourt, uma das consequências da queda do número de testes é que não conseguimos determinar, exatamente, qual é a intensidade da diminuição do número de casos no País. Ele explica que, com a taxa de positividade que os testes feitos no Brasil apresentam, o País deveria testar mais, e não menos. A taxa de positividade sinaliza a quantidade de testes positivos em relação ao total realizado.
Isso porque os dados semanais mais recentes divulgados pelo governo indicam que, na semana de 27 de setembro a 3 de outubro, cerca de 18% dos testes PCR feitos no Brasil tinham resultados positivos. Duas semanas antes, o percentual estava na casa dos 20% – uma taxa que Bittencourt qualifica como “absurdamente alta”.
“Temos 20% de positivos. Nova York tem 2%, grande parte da Europa tem 1%. Quando está muito ruim, eles têm 10%. Com 20%, isso indica uma quantidade muito grande de casos circulando e não testados”, afirma.
Desde o começo da pandemia, o percentual mais alto foi alcançado na semana de 7 a 13 de junho, quando 39,5% dos testes tiveram resultados positivos.
O médico avalia que é possível ser que a queda vista venha, em parte, de menos pessoas procurando atendimento, o que gera uma positividade menor. “Mas ainda estamos testando muito pouco para a fase atual e temos uma positividade muito alta”, afirma.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) aconselha que países deveriam ter taxas de positividade de até 5% para fazerem reaberturas.
“Isso quer dizer ter um teste positivo em cada 20 para ter uma confiabilidade de que se está testando um número suficiente de pessoas para não perder muitos casos”, avalia Bittencourt.
Se considerados os cerca de 7,7 milhões de testes do tipo PCR feitos no Brasil desde março até 10 de outubro, cerca de 35,5% tiveram resultado positivo. Na rede pública, o percentual é de quase 41%, segundo dados do Ministério da Saúde.
O Centro de Controle de Doenças americano (CDC, na sigla em inglês) afirma que taxas acima de 25% podem ser um indicador de que não há testagem suficiente.
Apesar de os dados indicarem que os casos não estão sendo diagnosticados na devida proporção, outros indicadores, como o dos casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), apontam que o Brasil tem visto, de fato, uma queda nos casos de covid-19 em certas regiões.
A incidência de SRAG é importante porque, em 2020, cerca de 98% dos casos estão sendo causados pelo novo coronavírus, segundo monitoramento da Fiocruz.