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Economia O Brasil pode ter uma inflação maior que o esperado por causa da tragédia no RS, diz o presidente do Banco Central

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Lula afirmou que Campos Neto (foto) tem "viés político" e que esse perfil não deveria dirigir a instituição. (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O presidente do Banco Central do Brasil (BC), Roberto Campos Neto, adotou um tom menos otimista para se referir à inflação global e brasileira. Durante um evento promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em homenagem ao ex-presidente da autarquia, Affonso Celso Pastore, falecido em fevereiro, o principal diretor da autoridade monetária disse que existe uma piora nas expectativas de inflação para este ano e o próximo.

Segundo Campos Neto, as principais causas para uma desancoragem das expectativas mais recentes para a inflação são o aumento no preço dos alimentos e a situação de calamidade pública no Rio Grande do Sul. Na avaliação do presidente do BC, estes fatores podem extrapolar ainda mais a meta de inflação para este ano, prevista em 3%.

O Estado é responsável por 12,7% do PIB do agronegócio, produzindo 99% da safra brasileira de canola, 73% de aveia, 71% de arroz, 45% de centeio e 40% de trigo.

“Apesar de a safra de arroz já ter sido colhida, teve o problema de o solo ser danificado, de a logística ser danificada…aveia, arroz e trigo são as coisas que mais afetam o IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo]”, apontou o presidente do BC.

Embora ainda não seja possível dimensionar o impacto dos alagamentos na economia, Campos Neto se mostrou preocupado e destacou que os países com perspectiva de menor inflação para 2024 e 2025 têm preço da alimentação mais controlado.

Campos Neto também deixou claro que observa com cautela qual será o custo de reconstrução do Rio Grande do Sul e como isso pode impactar o quadro fiscal brasileiro. As enchentes em razão dos temporais que começaram em 29 de abril já causaram ao menos 163 mortes e desabrigaram mais de 645,5 mil pessoas.

Puxada por medicamentos e alimentos, inflação sobe 0,38% em abril
De acordo com dados do Boletim Focus, a expectativa para o IPCA de 2024, de acordo com os analistas que integram o relatório, saiu de 3,73% no final de abril para 3,8%, na última sondagem. Já as estimativas para o ano que vem saíram de 3,5%, em março, para 3,76% na publicação desta semana.

Atualmente, o governo trabalha com uma meta de 3% para 2024. Nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad causou ruídos no mercado financeiro ao afirmar, em audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, que o objetivo seria “exigentíssimo” e “inimaginável”.

O presidente do Banco Central deu uma mensagem indireta para o governo, ao afirmar que a política fiscal deve andar lado a lado com a política monetária. “À medida que esse tema da dívida global começa a ficar mais claro para os governos, a gente já vê alguns governos da América Latina, por exemplo, refazendo planos para ter primários melhores, ter choque positivos nessa questão fiscal”, disse Campos Neto.

Alimentação 

Considerado um dos principais fatores para o aumento da inflação no Brasil e na maior parte do mundo, a escalada dos preços de alimentos preocupa a política monetária, como pontuou o presidente do BC.

Em abril, o IPCA registrou um aumento de 0,7%, após ter subido 0,53% no mês anterior. O avanço só não foi maior que o apresentado pelos itens de saúde e cuidados pessoais.

Segundo o presidente, as expectativas para os próximos meses não são nada favoráveis para o preço dos alimentos e considerou que ainda há uma incógnita grande sobre o tema. “A gente sempre discute isso aqui no Brasil e parece que a gente não tem mais elementos para dizer que a gente vai ter uma inflação de alimentos caindo no mundo”, afirmou.

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