Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 4 de abril de 2021
Com média diária de 66.176 infecções pelo novo coronavírus nos últimos sete dias, o Brasil vê as poucas vagas que surgem nas unidades de terapia intensiva (UTIs) serem ocupadas rapidamente por parte dos milhares de pacientes que aguardam nas filas de espera. A abertura de leitos resolve o problema até certo ponto.
Preparar cama, respirador, equipamentos e medicamentos sem ter disponível uma equipe que lide com os recursos é o mesmo que ter todos os materiais para construir uma ponte, mas nenhum trabalhador para executar o serviço. Segundo a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), para atender a demanda atual, o país precisaria ter entre cinco e seis vezes mais médicos intensivistas do que a quantidade atual.
A carência de médicos com a especialização já ocorria antes mesmo da pandemia da covid-19, mas ficou escancarada no cenário de guerra. A Amib calcula que o país necessitaria de mais 32.800 intensivistas para serem somados aos 7,2 mil que atendem pacientes em estado grave de saúde em todo o país.
Na missão de salvar vidas, os médicos, juntamente com os demais profissionais da área que se dedicam à ala mais sensível dos hospitais, também estão à beira do colapso físico, mental e humano.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, admitiu, que houve falha ao não prever a preparação de recursos humanos, o que começará, segundo ele, ainda que de forma tardia, a priorizar. “Vamos procurar ampliar a oferta de bolsas para formar intensivistas no Brasil. É algo que deveria ter sido pensado lá atrás. Não foi. Mas não adianta ficar olhando para o passado. Vamos olhar para frente. Parar de fazer calor e fazer luz. Precisamos de luz para iluminar o caminho que nós temos para seguir em frente e apoiar a nossa população”.
“À medida que mais e mais leitos são necessários, mais profissionais são demandados. Porém, como a oferta desse tipo de profissional é limitada, há, sim, uma escassez relativa”, admite o coordenador do Pronto-Atendimento e da Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, Carlos Rassi, que atende pacientes com o vírus em leitos de enfermaria e unidade de terapia intensiva.
Em alguns hospitais com falta de leitos, salas de cirurgias se transformaram em UTIs para ajudar com a alta demanda. A Amib afirmou, por meio de nota, que esta pode ser uma opção “excepcional”, mas não é uma solução universal para a falta de leitos próprios para emergência.
“A escassez de recursos humanos, de insumos farmacológicos e de material de apoio transcende à simplicidade da utilização dos centros cirúrgicos como terapia intensiva”, diz a nota, que ressalta, mais uma vez, a preocupação com a quantidade de mão de obra especializada e necessária para tratar esses pacientes.
Rassi afirma que, além da falta de recursos humanos, o cansaço dos profissionais, que atuam desde o ano passado sob pressão, pode interferir na qualidade do trabalho. Diante do gargalo, a inclusão de médicos recém-formados no quadro de funcionários das UTIs se faz necessária, ainda que não seja o ideal. “Ter profissionais capacitados, motivados, descansados e experientes faz toda a diferença”, aponta o especialista.
Porcentagem
Somado à falta de remédios, oxigênio e leitos, o esgotamento dos profissionais de saúde é mais uma triste faceta do cenário de colapso hospitalar que o país vive. Nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), cada médico intensivista costumava ficar responsável por 10 pacientes, em média, antes da pandemia. Agora, cada profissional cuida de 25 pessoas, todas com a saúde debilitada, segundo dados da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib).
A falta de profissionais qualificados e em número adequado é um dos motivos apontados por especialistas para justificar a alta taxa de mortalidade nas UTIs do país. Entre os pacientes intubados, 83,5% morrem, segundo dados do Ministério da Saúde compilados por pesquisadores da Universidade de São Paulo e da Fundação Oswaldo Cruz.