Quarta-feira, 12 de março de 2025
Por Redação O Sul | 30 de janeiro de 2021
A farmacêutica americana Johnson & Johnson anunciou na sexta (29) que sua vacina contra a Covid-19, desenvolvida em parceria com sua subsidiária belga Janssen, tem eficácia global de 66%. A epidemiologista Carla Domingues, que esteve à frente do Programa Nacional de Imunizações (PNI) por oito anos (2011-2019), afirma que o imunizante “têm todas as vantagens” para ser utilizado no Brasil.
O fato de não precisar de uma segunda dose, por exemplo, pode facilitar a logística de vacinação e acelerar a imunização da população brasileira. No entanto, o Brasil ainda não formalizou acordo para a compra de doses do imunizante, e corre o risco de “ficar de novo na fila”, alerta Domingues.
1) A farmacêutica Johnson & Johnson anunciou que a vacina tem eficácia global de 66%. O que representa a chegada desse imunizante nesse momento da pandemia?
O Brasil tem uma taxa elevadíssima de infecção da Covid-19 no país como um todo, vários estados chegando ao esgotamento dos sistemas de saúde. Então uma campanha que pudesse ser mais rápida e vacinar em menor tempo a população brasileira seria ideal. Na velocidade que está programada a entrega, tanto de Bio-Manguinhos quanto do Butantan, nós vamos demorar de 12 a 16 meses para vacinar a população brasileira, o que é muito tempo. Por isso, o Brasil precisa buscar outros fornecedores. Essa vacina (da Johnson & Johnson) tem eficácia semelhante às outras que já estão no Brasil, com a vantagem de ser uma única dose. Seria muita vantagem para o país adquirir.
2) De que forma o fato de precisar de uma única dose facilita a campanha de vacinação?
Facilita por não ter que chamar as pessoas de novo para vacinar. Imagina, aplicar uma dose e depois, no caso da CoronaVac, chamar de novo em pelo menos quatro semanas para revacinar todo mundo, e na da Astrazeneca em 12 semanas. É um processo muito complexo, falando de um país continental como o Brasil. A logística é mais difícil, precisa ter mais distribuição, mais armazenamento, um sistema de informação para registrar isso. Ter uma única dose é muito mais fácil: vacinou e a pessoa já está protegida. Nessas outras (vacinas de Oxford/AstraZeneca e CoronaVac), ela só estará protegida quando tomar a segunda dose.
3) A fórmula consta do Plano de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19 do governo federal, mas ainda não houve um acordo formalizado entre o Brasil e a J&J. O Brasil deveria investir nesse acordo?
Colocaram no plano as reuniões que ocorreram, mas o plano não é isso, é quando tem pelo menos um memorando de entendimento assinado com compromisso de compra. E o Brasil não tem compromisso de compra. Não adianta dizer no plano que tem interesse e não formalizar nenhum contrato. Esse é o momento de correr atrás de formalizar isso. Já estamos atrasados, não tenho dúvidas.
4) A vacina da J&J foi testada no Brasil. Essa é uma vantagem?
Sim, essa vacina tem a vantagem de que foi estudada aqui no Brasil, então a Anvisa liberaria rapidamente seu uso emergencial. Por enquanto, a Anvisa só disse que vai liberar como uso emergencial as vacinas que foram testadas aqui. Outras que não foram não serão autorizadas neste primeiro momento, pode ser que mude a regra depois. Como foi testada na fase 3 aqui, ela pode conseguir uso emergencial rápido, como foi com a AstraZeneca e com a CoronaVac. Ela tem todas as vantagens para ser utilizada no Brasil.
5) Então a expectativa é que a J&J entre com um pedido de uso emergencial logo e consiga a aprovação rapidamente?
Possivelmente a Jonhson & Jonhson só vai ter interesse em entrar com pedido emergencial se ela tiver alguma formalização de compra, porque é um processo complexo. Não acredito que ela vá entrar com o pedido se não tiver algum pedido de compra do Brasil, pelo menos nesse primeiro momento, ela vai dar prioridade para outros países em que já tenha algo formalizado. Por isso seria importante o Brasil formalizar um contrato.