Para 27% dos brasileiros, o maior medo da vida é ter câncer. O pavor de tumores está muito à frente de outras situações terríveis, como ser assaltado (12%), ficar desempregado (14%), sofrer um AVC – acidente vascular cerebral (derrame, 8%), ser atropelado (5%) ou ter a casa destruída por um incêndio (8%).
Os dados são de uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha com 2.074 pessoas, de todas as regiões do País, e corrobora resultados de outros estudos. Uma revisão publicada em 2017 por pesquisadores da UCL (Universidade College London) na revista Psycho-oncology concluiu que o medo do câncer emana da visão comumente propagada de que ele é um “inimigo cruel, imprevisível e indestrutível”.
Outro estudo, de pesquisadores da UCL e do King’s College London, publicado em 2014 na revista BMC Cancer com dados do Reino Unido, relata que o câncer é o problema de saúde mais temido. Não há resposta simples para explicar por que esse medo é tão intenso.
Para Deborah Suchecki, professora de psicobiologia e estudiosa das consequências emocionais e fisiológicas do estresse, uma explicação possível é a proximidade do câncer. De acordo com ela, a maioria das pessoas conhece alguém que teve um tumor ou morreu de câncer – ou que tenha vivido o desemprego, segundo medo mais citado na pesquisa.
“São adversidades comuns, as pessoas devem sentir que pode acontecer com elas. As outras opções podem ser mais distantes da realidade da maioria, o que dá uma noção de ‘imunidade’”, disse ela.
De fato, o câncer é bem corriqueiro. No Brasil são cerca de 580 mil casos todos os anos, de acordo com dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer), e quase 220 mil mortes. Vale lembrar que o câncer é um conjunto de dezenas de doenças que, em comum, têm em sua origem uma proliferação celular descontrolada. Isso faz com que partes do organismo percam função e boa dose de energia seja gasta alimentando as células cancerosas. O cérebro e o coração, sem aporte energético suficiente, morrem.
O tratamento pode incluir cirurgia, que, se for viável, geralmente é desejável, além de radioterapia (a radiação é usada para destruir células tumorais) e quimioterapia (utiliza agentes químicos). Mesmo assim, nem sempre a pessoa está livre de sequelas ou do risco de recidivas. Nos últimos anos ganhou espaço a imunoterapia, modalidade de tratamento que tenta estimular a resposta imunológica do próprio organismo aos tumores e que já apresentou alguns resultados animadores.
No entanto, não há milagre. Segundo estatísticas americanas, a chance de uma pessoa ter algum tipo de câncer ao longo da vida está perto de 40%. E o risco de uma pessoa morrer por causa da doença é de cerca de 20% (em homens, o prognóstico é pior). Na conta, entram desde os tumores menos perigosos, como o de próstata, aos mais agressivos, como o de pâncreas.