Antes, as Vinte Mil Léguas Submarinas; bem depois, Blade Runner (que retornou várias décadas para o agora), Star Wars etc etc eram puro jogo de imaginação. Ou se dizia, na criatividade do passado não sabido – Planeta dos Macacos, por exemplo – ou se dizia, avançando no amanhã por um tempo que servia de cenário a um fictício afirmativo, até o exercício crítico criativo (1984) de George Orwell.
E parecia que se estava descrevendo máquinas, armas, invenções (inclusive outros planetas) enfim, que resolviam os problemas que a grande maioria não sabia sequer formatar. Houve um desfilar de espécies que, segundo seus criadores – normalmente literários – estiveram no passado mais ou menos remoto. Desaparecem, ultrapassando o limite impossível da sobrevivência, como o “monstro do Lago Ness”.
No entanto: o que me chama a atenção não são propriamente as criações intelectuais extravagantes do passado (algumas simpáticas apesar da incompatibilidade térmica do Papai Noel – simpático e bem acolhido – com seus capotes e velozes renas em pleno verão do nosso tórrido dezembro ou a relação com a Páscoa, pelo menos não muito lógica, com o coelho, os ovos presenteados e a prioridade alimentar do chocolate, (quando sabemos que coelho gosta de cenoura).
O que ocorre na prática do hoje aos olhos de quem, na marcha da vida, vem do ontem (ou talvez do anteontem) é uma fantástica inadequação à complexidade – para o idoso – da vida tecnológica, tão elementar para a neta (ou talvez para a bisneta), que move, nos teclados, com celeridade de fórmula UM, seus dedinhos precisos que sempre deixam em dúvida se é magia ou é milagre.
Hoje as pessoas sabem dos fatos pela breve nota das redes sociais (que as alcançam pelos caminhos do computador) onde as palavras são apocopadas, numa prática que as acolhe, sem conhecer como se formaram, e porque significam o que significam.
Alargou-se a mentalidade da crença na infalibilidade (para os católicos, na do Papa e, em situações exemplares, na de Deus). Agora é ato de fé outorga-la ao GOOGLE, a quem emprestamos o diploma da sabedoria que, nem os gregos atribuíam as suas PITONISAS.
Os tempos passaram e, diferentemente da canção do Chico, só Carolina foi quem viu. Homens e mulheres, por acreditarem num Deus ( que creem benigno), tiveram – e tem – de caminhar desertos, de navegar em barcos frágeis de proa à popa, fugindo da perseguição de seus conterrâneos. Almejam chegar à nova vida que, na realidade, começará pela recepção hostil de autoridades autoritárias, que não sabem ou esquecem que as grandes potencias se fizeram ricas e poderosas, graças ao braço produtivo do migrante.
Hoje, o trapézio do circo e seus artistas andarilhos se substituíram pelo eletrônico programa de auditório contratado para aplaudir na hora do sinal combinado.
Hoje, nem sempre, mas muitas vezes, se faz a prova dos fatos com a versão da História que os delatores – também chamados elegantemente de “colaboradores” – contarem.
Hoje, a perspectiva de notoriedade, na sociedade midiática, gera os delinquentes famintos de notoriedade como o assassino de Lennon, o Luther King e/ou os homicidas coletivos que matam por atacado sem saber a quem nem por que.
Hoje, a droga destrói o possível futuro do moço que se privou do direito de viver sem dependência e fe-lo, involuntariamente, ser o destruidor dos laços de família.
Hoje, se fala na Paz mas as guerras (na Servia, no Sudão, em Myanmar, no Afeganistão etc etc) matam impiedosamente porque produzimos, cada vez mais, armas “inteligentes” que são tanto mais valiosas quanto seu índice de morticínio.
Mas, enfim, hoje, também, no lado iluminado da Humanidade, vários cientistas receberam o Prêmio Nobel pelas descobertas benignas que fizeram.
Hoje, só nos desencanta e repugna ver a corrupção de políticos e compensa-nos lembrar que MANDELA também foi POLÍTICO.
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