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Por Redação O Sul | 25 de fevereiro de 2018
O senador Romário (Podemos-RJ) ocultou uma parcela milionária do seu patrimônios nos últimos anos para evitar o pagamento de dívidas reconhecidas pela Justiça. Dois apartamentos na Praia da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, já foram identificados em juízo e vão ser usados para amortizar parte do que é devido pelo ex-jogador. Uma casa em um condomínio de luxo no mesmo bairro e um carro importado deverão ser os próximos da lista.
Os bens mapeados — todos estiveram ou ainda estão oficialmente registrados em nome de terceiros — são avaliados em R$ 9,6 milhões.
Um levantamento feito pelo jornal O Globo nas ações, em cartórios e junto à Procuradoria da Fazenda Nacional revela que Romário e duas de suas empresas são cobrados por pelo menos R$ 36,7 milhões em dívidas com a União, outras empresas e pessoas físicas. O mecanismo para esconder bens e burlar credores foi explicitado pela juíza Érica de Paula Rodrigues da Cunha, da 4ª Vara Cível da Barra, ao analisar o caso dos imóveis localizados na orla da Barra. “O expediente é tal flagrante que não pode ser ignorado. Não é preciso maior dilação para se concluir pela ocultação de patrimônio para fraudar credores”, escreveu a magistrada em despacho de outubro do ano passado.
Apartamentos
Os dois apartamentos em questão foram comprados pelo senador em 2005 e quitados em 2008. Até 2016, no entanto, permaneceram registrados em nome da construtora Cyrela. Instada por um dos credores de Romário, a Justiça determinou que a empresa revelasse a identidade do real proprietário.
A Cyrela, então, informou que os imóveis pertenciam à Romário Sports Marketing, firma que tem o senador como principal sócio. Só depois do questionamento judicial as certidões dos apartamentos foram atualizados em cartórios, citando um contrato de gaveta de 2005 que celebrava a venda para Romário. A Cyrela ajudou o senador em eleições. Somadas as campanhas de 2010, quando foi eleito deputado federal, e 2014, quando virou senador, Romário recebeu R$ 100 mil em doações de empresas que têm a construtora entre as sócias.
A Cyrela disse, em nota, que caberia ao comprador do imóvel solicitar o registro. A empresa acrescentou que prestou as informações à Justiça e, sobre as doações eleitorais, afirmou que foram realizadas “dentro dos ditames legais”.
No fim do ano passado, os dois apartamentos foram leiloados para quitar parte da dívida do senador com a Koncretize, empresa que prestou serviços para o extinto restaurante Café do Gol, que Romário manteve na Barra entre o final dos anos 1990 e o início dos anos 2000. Em dezembro, um empresário arrematou ambos: um por R$ 1,4 milhão, e o outro por R$ 1,46 milhão. Em resposta aos questionamentos, o senador afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que a reportagem estava “confundindo a pessoa jurídica Romário Sports Marketing com a pessoa física Romário de Souza Faria”. Ele acrescentou: “Como vocês próprios falaram, os imóveis não são meus, pertenciam à empresa”.
No documento público mais recente a respeito de seus bens — a declaração enviada em 2014 ao Tribunal Superior Eleitoral —, o senador afirmou ser dono de 99% do capital da Romário Sports Marketing. Ele estipulou em R$ 99 mil o valor de sua participação na empresa — só os dois imóveis que compunham o patrimônio da firma valiam R$ 2,86 milhões, de acordo com o valor arrecadado no leilão. O senador, na época da campanha, fixou em R$ 1,3 milhão o valor total dos seus bens.
A casa e as festas
Em outra movimentação no mercado imobiliário, Romário, já no Senado, comprou uma casa em um condomínio fechado na Barra. O imóvel foi vendido no final de 2015 por Adriana Sorrentino Borges, ex-mulher do ex-jogador Edmundo. Ela não revelou os valores envolvidos na transação — a prefeitura avalia o bem em R$ 6,4 milhões, de acordo com uma certidão obtida em cartório. No entanto, ao ser perguntada se vendeu a casa para o senador, não deixou dúvida.
Ela afirmou que o imóvel está registrado em seu nome porque a compra ainda não foi quitada. A Justiça deverá notificar Adriana nas próximas semanas para que ela, de maneira oficial, informe para quem vendeu a casa. Segundo o vizinho do imóvel, o senador tem usado a casa para eventos.