Quinta-feira, 28 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 12 de dezembro de 2020
O desempenho da economia brasileira no próximo ano dependerá, em boa parte, da avaliação de dois riscos: a dinâmica da pandemia, que pode ser medida pelo número de óbitos, e o quadro fiscal, que afeta indicadores de condições financeiras como o juro real. Dependendo do comportamento desses fatores, a alta do Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2021 pode variar de 1,4%, com a atividade recuando nos três primeiros meses do ano, a 5,7%, com um primeiro trimestre positivo. As projeções são do Itaú Unibanco.
O cenário-base do Itaú prevê avanço de 4% para o PIB do Brasil em 2021. Só o carregamento estatístico de 2020 já garantiria 3,5% – ou seja, se a atividade não crescesse nada do quarto trimestre deste ano até o fim de 2021, a economia teria alta de 3,5%.
O Itaú pressupõe um primeiro trimestre com ligeiro crescimento da atividade, de 0,2%, isso considerando que a média de mortes por covid-19 ao fim desse período estará em 400 óbitos diários. O juro real, que hoje ronda zero, estará em 2,5%. Se, sob as mesmas condições financeiras, os óbitos rondarem 600 pessoas por dia, não seria possível sustentar um PIB positivo no primeiro trimestre. A projeção iria para -1,2%, levando o PIB do ano para 3,7%.
A média móvel semanal de mortes diárias por covid-19 chegou a ficar abaixo de 400 no país na primeira metade de novembro, o que não acontecia desde o fim de abril, mas voltou a crescer, chegando a 642 ontem. “Para ir a 400, tem que cair em relação aos patamares atuais. Essa piora que aconteceu agora aumenta o risco de ter um PIB negativo no primeiro trimestre”, reconheceu o economista Luka Barbosa. Ele observou, porém, que a projeção de óbitos é para o último mês do primeiro trimestre.
“Se a atividade contrair no primeiro trimestre, o carregamento estatístico para o ano vai piorar um pouco. Ao mesmo tempo, se no segundo e terceiro trimestre tiver vacinação, tende a ter uma alta forte também. Mesmo com um PIB negativo no primeiro trimestre, não acabaria 2021 com um PIB muito abaixo do nosso cenário-base de 4%”, afirmou Barbosa, acrescentando que a avaliação depende ainda da parte fiscal.
“Se a gente vai para um curva de óbitos de 800 ou 1.000 por dia no fim do primeiro trimestre e, além disso, tem extensão dos auxílios, abandono do teto de gastos e as condições financeiras se deterioram, a gente fica no quadrante vermelho, com números de PIB para 2021 bastante baixos”, disse. Na projeção mais pessimista, com óbitos diários em torno de 1.000 e um juro real de 5,5% por volta de abril e maio, o crescimento do PIB seria de 1,4%.
Já no cenário mais otimista do Itaú, em que o primeiro trimestre termina com média de 200 mortes por dia e o juro real continua próximo a zero, a economia avançaria 5,7%. A previsão de 4% para o PIB em 2021 é o piso das projeções “otimistas” do Itaú. “Se, por um lado, tem risco de baixa por causa da possibilidade de deterioração fiscal e da dinâmica do vírus, por outro, se a gente conseguir ficar no quadrante azul, com a parte fiscal responsável, tem risco altista”, disse Barbosa.
Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú, observou que há uma “convergência de risco” em direção à covid-19. “Para o fiscal, para a nossa saúde, para a economia do país, é o risco com que a gente está lidando de forma mais intensa”, afirmou.