Sábado, 11 de janeiro de 2025
Por Tito Guarniere | 6 de julho de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Não há margem de dúvida: o desempenho de Joe Biden no debate com Trump foi uma calamidade, uma sucessão de vacilos, imprecisões e lapsos, além de demonstrar fadiga, apatia e desânimo.
Biden perdeu feio e não foi pelo discurso de Trump. Este, como é do seu feitio, esbanjou voluntarismo, mentiu à vontade, é alérgico aos fatos, abusou de dados e informações falsas. Não se pode pedir desse homem arrogante nada além do que ele possa dar. Ao final do debate, não se consegue guardar praticamente nada do que ele disse.
O candidato republicano faz o fácil: não tem nenhum compromisso com a coerência, diz o que lhe vem à cabeça, e como Chacrinha, não vem para explicar, mas para confundir.
Sempre achei que a democracia, entre outras virtudes, teria como consequência uma sociedade mais aderente a valores e princípios, o primado de uma consciência coletiva e comunitária, em meio à diversidade de pensamentos e visões do mundo. Isto implicaria em que o eleitor, na hora de eleger seus governantes e representantes, tomaria por base os conceitos que constituem a cidadania, a comparação cuidadosa das propostas e dos nomes, que resultariam em uma escolha mais sábia e acertada. Achava que a liberdade de expressão, o debate público, conduziriam a uma prevalência nos valores humanistas, e seria estreita a margem de manipuladores , oportunistas e aventureiros.
Com o tempo foi ficando claro que não era assim, e pior, a cada eleição parecia ter ocorrido um retrocesso, uma deformação e uma caricatura daqueles valores – a predominância de valores regressivos, a inexorável desqualificação dos candidatos a cargos públicos.
O fenômeno – a degeneração da política – se disseminou pelo mundo em todas as dimensões, e a política, mecanismo nobre e civilizado para a definição da vontade popular e soberana, se perdeu em disfunções e descaminhos: terreno fértil para o aventureirismo.
Os EUA estão diante de um quadro desolador: um candidato decente, porém envelhecido, e outro adepto fervoroso de desvarios, um pândego político, uma arremedo de homem público, um ser abjeto e irresponsável, e provável vencedor da eleição de novembro.
Seria um problema menor se o trumpismo fosse um nicho restrito, como os supremacistas brancos, os movimentos radicais do tipo da Ku-Klux-Klan. A verdade é que Trump vocaliza o estado de espírito de milhões de americanos , nostálgicos de uma América grandiosa, dos tempos em que a economia americana dominava o mundo – a supremacia que hoje não tem mais e tem de dividir com outras potências, como a China.
Raciocínios limitados, consciências obtusas, a rigor nem ouvem o que Trump tem a dizer – mesmo porque Trump nada diz de sério. Para eles é suficiente a forma como o candidato os apresenta, afrontoso, supostamente intrépido, primitivo, dotado de todas as certezas (ainda que mal expressas), a crueza e a estupidez dos resolutos. O mau exemplo, como sabemos, já chegou e vive entre nós há tempos, no bolsonarismo.
Só um milagre nos livrará da desgraça trumpista, infelizmente, não apenas para a América, como para nós outros que vivemos na periferia e no mundo,
titoguarniere@terra.com.br
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.