O desprendimento de um enorme bloco da Geleira Grey, na Patagônia chilena, no fim de semana passado, preocupou a comunidade científica, que teme que esse tipo de fenômeno acelere os efeitos das alterações climáticas nas próximas décadas.
O Grey, uma enorme massa de gelo azulado localizada no turístico parque nacional Torres del Paine (cerca de 3,2mil quilômetros ao sul de Santiago), teve uma rachadura no começo do mês, que provocou o desprendimento de um bloco de entre 350 e 380 metros, ameaçando a navegação na região.
Embora esses incidentes sejam normais, o tamanho do bloco surpreendeu cientistas locais que acompanham de perto a evolução da Geleira Grey, com cerca de 270 km² de superfície e que perdeu, em 30 anos, 2 km² de massa.
“Fatos como este fazem parte de uma tendência irreversível a curto prazo”, declarou o pesquisador e especialista em mudança climática Raúl Cordero, da Universidade de Santiago.
Essa tendência é explicada pelo aumento das temperaturas devido ao aquecimento global, fenômeno que, nos últimos 100 anos, elevou em 0,8°C e que, até 2050, deve subir 1°C, ou 2°C, explica o especialista.
Os glaciares dos Campos de Gelo da Patagônia têm mais de 20 mil km² de superfície, a terceira maior extensão de geleiras continentais, atrás da Antártica e da Groenlândia. Pesquisadores estimam que eles perderam até 13 km² de massa nas últimas três décadas.
Menos proteção
As perdas reduziram a capacidade das geleiras de refletir a radiação solar, que acaba sendo absorvida pela Terra. Isso leva ao aumento das temperaturas do planeta e à aceleração dos efeitos das alterações climáticas, estimulando o surgimento de fenômenos como tempestades extremas, furacões, ou ondas de calor.
“Não há nenhum indicador de mudança climática que não esteja piorando. O nível do mar está subindo cada vez mais rápido; as geleiras se derretem cada vez mais rápido; a Groenlândia e a Antártida perdem cada vez gelo”, afirmou Cordero.
Obama
O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama lamentou na última sexta-feira (1º) a “pausa da liderança” de seu país contra o aquecimento climático, ao aludir à decisão de seu sucessor, Donald Trump, de abandonar o Acordo de Paris.
Desde que deixou o poder, em janeiro, Obama fala pouco do presidente republicano, que se dedica a desmontar boa parte das medidas tomadas nos dois mandatos de seu predecessor.
Mas, em uma conferência em Nova Délhi (Índia), Obama defendeu o Acordo de Paris de 2015, primeiro pacto que obriga todos os países a limitar o aquecimento climático e do qual foi um dos promotores. “É um acordo que, apesar de termos uma pequena pausa na liderança dos Estados Unidos, dá a nossos filhos uma oportunidade de se defender ante as mudanças climáticas no planeta”, declarou Obama na conferência.
Trump, que chegou a classificar o aquecimento climático de “piada”, anunciou em junho a retirada dos Estados Unidos do acordo. Esta retirada não será, no entanto, efetivada antes de novembro de 2020.