Quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 7 de maio de 2015
Duas cenas retrataram nesta quarta-feira (6) um dilema que os petistas, há 12 anos no poder, resistem em equacionar. Ser ou não ser governo, com todos os ônus que as escolhas carregam?
Cena 1: o PMDB, indignado, cobra posição do PT em favor da aprovação do ajuste fiscal, projeto-pilar do segundo mandato de Dilma Rousseff. O partido da presidenta vinha se manifestando contra o ajuste e se tornou um obstáculo delicado de transpor na condução do projeto nas casas legislativas. O PT age como se governo não fosse.
Cena 2: diante do panelaço, feito contra o programa de TV do PT sem Dilma, o ministro Edinho Silva devolveu a seu partido o ônus. Disse que quem tem que responder pelo protesto é o PT. É o governo agindo como se PT não fosse.
Os panelaços ganharam forma a partir de discursos de Dilma. O silêncio da presidenta no 1º de Maio a poupou de outra reação. Ao evitar o programa de TV, no entanto, ela não conseguiu fugir do barulho. A insatisfação contra o governo encarna com nitidez a reação contra o partido que está no governo pelo quarto mandato consecutivo. E contra Lula, a estrela decana. Longevo no poder, o partido, com a agenda pró-arrocho e os protestos, se confronta com seu DNA.
Chamuscado até a raiz no mensalão e atingido novamente na Lava-Jato, o partido agora enfrenta outro revés, desta vez ideológico: a dificuldade em encontrar discurso para lastrear as decisões econômicas da gestão Dilma, muitas na contramão de bandeiras históricas da esquerda. Já o governo, enquanto se esforça para domar seu partido, tenta se distanciar do que lhe faz mal no PT. Com o PMDB de capataz. Hora do divã. (AG)