Quarta-feira, 04 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 1 de dezembro de 2024
As revelações que implicam ainda mais Jair Bolsonaro em uma trama golpista podem não ter enterrado definitivamente o futuro político do ex-presidente, mas representam um duro golpe em seus planos eleitorais mais imediatos. Principal nome da direita nas últimas duas eleições nacionais e responsável por dar visibilidade a uma corrente ideológica que vivia sob o manto da discrição desde a redemocratização do País, ele impacta com o seu calvário todas as forças desse espectro político, como se viu nas reações dos governadores candidatos a herdar seu espólio eleitoral.
Tarcísio de Freitas (São Paulo) foi enfático ao se posicionar ao lado de Bolsonaro. “Há uma narrativa disseminada contra o presidente e que carece de provas”, afirmou. Já Ronaldo Caiado (Goiás) repudiou a tentativa de golpe, mas evitou responsabilizar Bolsonaro. Ratinho Junior (Paraná) seguiu na mesma linha. “É muito difícil fazer juízo de valor”, disse, ressaltando que tem bom relacionamento com o ex-presidente. Romeu Zema (Minas Gerais) preferiu nada falar.
Comportamentos dão a medida de como a situação de Bolsonaro deixou um dilema difícil para os candidatos a ocuparem o seu espaço. O desafio será não perder o eleitor bolsonarista e, ao mesmo tempo, se distanciar das atitudes antidemocráticas e até criminosas dele e de ex-integrantes de seu governo.
A preocupação não é gratuita: levantamento divulgado pelo instituto Paraná Pesquisas na última quarta, 27, mostra Bolsonaro à frente de Lula numa eventual disputa presidencial. Mesmo inelegível por decisão da Justiça, sua performance, ao menos neste momento, é muito superior à de todos os governadores que pleiteiam a posição de adversário de Lula em 2026.
Bolsonaro, apesar de acossado, continua firme na disposição de disputar a eleição em 2026, como revelou em entrevista a VEJA. “Com todo o respeito, chance só tenho eu, o resto não tem nome nacional. O candidato sou eu”, disse. O plano é registrar a candidatura e esperar que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgue, como fez Lula em 2018, quando estava preso. Com a negativa da Corte, em 1º de setembro, Fernando Haddad, que era vice do petista e estava em campanha, tornou-se o candidato a um mês da votação e, ainda assim, foi ao segundo turno.
Se o plano prevalecer, o mais provável é que Bolsonaro tenha um vice de sua confiança — hoje, o nome mais cotado é o do filho e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que tem boas relações com o presidente americano eleito Donald Trump e um passivo eleitoral menor que o de seu irmão, o senador Flávio, cotado inicialmente — e que já foi investigado por prática de rachadinha. A ex-primeira-dama Michelle, embora apareça bem nas pesquisas, deve concorrer ao Senado.
Já uma segunda possibilidade seria Bolsonaro jogar a toalha antes e escolher um aliado da direita para representá-lo. Nesse caso, Tarcísio de Freitas é o nome preferido. O entorno do governador se divide entre alas que desejam que ele concorra e outras que minimizam a possibilidade de ele tentar a Presidência em 2026.
Um importante dirigente de seu partido, o Republicanos, disse à revista “Veja” que esse passo iria contra a lógica, porque Tarcísio tem caminho estruturado para tentar a reeleição em São Paulo e não faria sentido deixar o cargo em abril de 2026 “e se colocar à disposição para Bolsonaro resolver o que pretende fazer”.
Uma eventual candidatura só seria possível se todo o campo da direita se unisse em torno de seu nome, o que é considerado remoto. Levantamento do Paraná Pesquisas deste mês mostra que Tarcísio tem 40% das intenções de voto na sua tentativa de reeleição e 69% de aprovação de sua gestão.
As situações de Ratinho Jr., de Caiado e de Zema são diferentes. Impedidos de disputar a reeleição porque estão no segundo mandato consecutivo, eles podem ver no calvário de Bolsonaro uma oportunidade para avançar no cenário nacional. Primeiro a se colocar como opção, Caiado tem uma relação ora de aproximação ora de afastamento com o ex-presidente. Ele minimiza o risco de fragmentação da direita e diz que há espaço para todo mundo em 2026. Apesar de não criticar Bolsonaro neste momento de fragilidade, afirma que é preciso “mostrar que há outros nomes no cenário”.
“O eleitor já deu sinais de que quer sair do extremismo e quer gestão, resultado”, diz Caiado, que tem boa aprovação, tanto que elegeu seu candidato em Goiânia (Sandro Mabel) mesmo enfrentando Bolsonaro. Além disso, é o mais experiente da turma: apresentou-se como presidenciável da direita e do agronegócio na eleição de 1989, quando liderava a União Democrática Ruralista. O grande problema é unificar o União Brasil, que tem ministérios e uma ala que defende o apoio a Lula. O líder da legenda na Câmara, Elmar Nascimento, afirmou que lançar uma candidatura própria seria “traição”. Se não bastasse, a cúpula da sigla namora o coach Pablo Marçal, que sonha chegar ao Palácio do Planalto. As informações são da revista Veja.