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Colunistas O discurso da estupidez humana! E da servidão! Voluntária!

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Mauro Mendes Dias é um psicanalista deveras interessante. (Foto: Reprodução/YouTube)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Mauro Mendes Dias é um psicanalista deveras interessante. Acaba de lançar o livro “O discurso da estupidez”. É uma espécie de manual para aprender a detectar as estultices.

Ele mostra que a estupidez não é autoengendrada. Isto porque, de um lado, ela não é sem causa; de outro, ela mantém relação com o tipo de ação da verdade que emerge parcialmente nela.

Qual verdade? Aquela que metamorfoseia em certeza. Como uma aparição do além-túmulo, ela nos faz lembrar a função que cumpre o fantasma do pai morto para Hamlet, no início da peça de Shakespeare.

Assim, tendo o sujeito se ensurdecido para qualquer tipo de dúvida ou objeção, deixa-se conduzir por uma missão que clama por vingança. Diferentemente do gesto de Ulisses na Odisseia, o tapar de ouvidos aqui é condição para o sucesso de viagem em direção às rochas da estupidez, as quais não provocam a morte dos passageiros, mas sim a sua proliferação.

A estupidez não precisa de teste, verificação e fundamento, diz Mauro.
Tem toda a razão. Olhando em volta, vê-se coisas que se enquadram nessa “epistemologia da estultice”, como gente acreditando que, orando, o COVID desaparece. Bom, de qualquer modo, a estultice não está em quem prega – isso é malandragem – , e, sim, está em quem acredita.

Também há bons exemplos em coisas como “não há aquecimento global”, gente que embarca no senso comum de que, afinal, ainda cai neve no mundo. Cogito, ergo estupidus.

Queimadas na Amazônia ou Pantanal? Conspiração. Claro. Está na cara. Tudo é montagem. Na verdade, os animais calcinados são apenas imagens de filmes. Isso não ec-xiste, Padre Quevedo.

Gente importante acreditando ou espalhando que os satélites mentem ao mostrarem que aumentou a área de desmatamentos e queimadas. Isso “denigre” (sic) a imagem do país lá fora. Ah, bom.

Outro dia ouvi um sujeito em uma rádio falando contra fake news. Vociferava. Interessante. Ele mesmo, minutos antes, falava, com convicção, que os incêndios eram invenções e exageros. Sim, de verdade. O sujeito, embarcado na nau da insensatez e da estupidez, falava contra o que acabara de fazer.

E assim, a nave vai. O primeiro best seller depois da Bíblia foi o livro A Nau dos Insensatos, traduzido para 34 línguas. Escrito em 1494.

Agora, o livro de Mauro Mendes Dias fala dos “neo insensatos”, em seu magnifico “Discurso da Estupidez”. Permito-me ainda acrescentar: tudo isso só funciona porque existe o Discurso da Servidão Voluntária, escrito por um jovem de 18 anos, antes de 1600. Bah. E a nave vai.

Onde há fumaça, há fogo? Depende, diria um cético pós-moderno. Mas se a fumaça for algo que cheira a queimado e que vem de uma floresta, ainda assim não é sinal de fogo? “- Capaz, isso é tudo mentira. Só serve para ‘denegrir’ nossa imagem”.

Nota: a palavra “denegrir” deveria ser banida. Como dizia John Austin, é possível fazer coisas com palavras. É o caráter perlocucionário da linguagem. Captou, caro leitor?

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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