O discurso do governo dos Estados Unidos sobre a morte do general iraniano recebeu apoio irrestrito de Israel, Arábia Saudita e Emirados Árabes, mas teve recepção fria entre europeus, mais antigos aliados do governo norte-americano. Segundo analistas internacionais, o ataque que na quinta-feira passada eliminou Qassim Suleimani pegou de surpresa os europeus.
No domingo, líderes do Reino Unido, França e Alemanha criticaram o fato de não terem sido avisados da operação e pediram a redução das tensões. O chanceler europeu, Josep Borrell, convidou o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohamed Zarif, para uma reunião em Bruxelas (Bélgica) e a Alemanha também declarou que buscaria contato direto com o Irã.
Publicamente, os europeus não criticaram o presidente Donald Trump por ter ordenado a ação no Oriente Médio e concordaram com a visão norte-americana de que o Irã é uma “força desestabilizadora” na região. Ao mesmo tempo, porém, ninguém fez elogios à eliminação se Suleimani, temendo riscos para cidadãos, tropas e interesses da União Europeia na região.
Após o incidentre, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, reclamou da resposta fria por parte dos velhos aliados: “Os europeus não foram tão úteis quanto eu gostaria que fossem. Britânicos, franceses e alemães precisam entender que o que fizemos salvou vidas na Europa também”.
A queixa de Pompeo provocou uma reação tímida entre os alvos de suas declarações. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, demorou três dias para apenas dizer, por meio de um comunicado, que “não lamenta” a eliminação de Suleimani. Nos bastidores, ele teria se irritado com Trump por não ter sido informado a respeito do plano de ataque.
Já o presidente francês Emmanuel Macron prestou “solidariedade” a Trump por telefone, mas também ligou para o governo iraquiano e condenou a violação da soberania do país.
O ataque
Considerado um heroi na região, o general iraniano Qasem Soleimani e o líder paramilitar iraquiano Abu Mehdi al-Muhandis morreram na noite de quinta-feira em um ataque dos Estados Unidos contra o aeroporto de Bagdá, três dias após manifestantes pró-Irã tentarem invadir a embaixada norte-americana na capital do Iraque.
Conforme o Pentágono, a ordem para liquidar Soleimani partiu diretamente de Donald Trump: “Sob as ordens do presidente, o Exército americano adotou medidas defensivas decisivas para proteger o pessoal americano e estrangeiro e matou Qasem Soleimani”. Minutos antes, o próprio Trump havia postado no Twitter uma bandeira de seu país.
O presidente do Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara de Representantes, Eliot Engel, admitiu que Soleimani foi “o autor intelectual de uma enorme violência” contra americanos, mas ressalvou que “seguir em frente com uma ação desta importância sem envolver o Congresso envolve sérios problemas legais e é uma afronta aos poderes do Parlamento”.
Do outro lado, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, qualificou o ataque de “escalada extremamente perigosa e imprudente” deflagrada por Washington. Mohsen Rezai, um antigo chefe dos Guardiões da Revolução, declarou que “Soleimani se uniu a nossos irmãos mártires e nossa vingança sobre a América será terrível”.