Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Edson Bündchen | 22 de fevereiro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O ator americano Clint Eastwood, do alto dos seus mais de 93 anos de idade, anunciou, há poucos dias, o seu mais novo e possivelmente último filme. Eastwood, uma lenda ainda viva do cinema, acumulou centenas de prêmios no decurso de sua longa e bem-sucedida existência, e nada foi capaz de lhe tirar a paixão pela vida e por novos projetos. Na mesma semana desse anúncio, morria no Brasil o empresário Abílio Diniz, também longevo e exitoso como Eastwood, ambos parte de uma estirpe de pessoas que conseguiram traduzir os melhores conselhos para manterem-se ativos em práticas cotidianas e enfrentar com destemor e altivez o inexorável passar do tempo.
Esses exemplos são ainda mais notáveis numa época que nos cobra respostas aceleradas, cada vez mais urgentes, pois tempo é dinheiro e quem não andar suficientemente rápido, invariavelmente acaba atropelado. Num tempo também de menos paciência, maior competição, no qual a necessidade de manter-se jovem caminha lado a lado com o aumento da ansiedade de uma geração que tem pressa em ocupar o seu lugar no mundo. Sem dúvida, vivemos tempos paradoxais, contraditórios, inseguros e muito mais complexos do que em qualquer outro período da história. Esse nervosismo e essa impaciência, consequentemente, cobram o seu preço. O aumento do preconceito em relação aos mais velhos é um deles. Assim, no oceano de problemas que povoam a moderna sociedade, o etarismo, descrito pela primeira vez pelo gerontologista Robert Neil Butler, um expoente da medicina do envelhecimento, se apresenta como uma de formas mais injustas e perversas de discriminação que os idosos enfrentam.
Por outro lado, nesse mesmo contexto de impermanência, contradições, preconceitos e incertezas, os avanços da medicina têm permitido ganhos importantes, não apenas quanto à expectativa de vida, mas também na qualidade desse maior período de sobrevivência. Vive-se mais, porém com desafios igualmente consideráveis, dada a complexidade e as adversidades da vida moderna. Desse modo, emergem, e passam a ser um recurso valorizado, novas formas de encarar o futuro, preparar-se para tal e, como bem assinalava Abílio Diniz, compartilhar todo a aprendizado de uma vida. Célebre por suas conquistas materiais, que não foram poucas, Diniz acabou deixando outro importante legado em sua terceira e última fase da vida quando, mais maduro e generoso, passou a ensinar tudo aquilo que aprendeu em sua rica experiência enquanto empreendedor de sucesso.
E esse é um ponto importantíssimo a ser reconhecido e estimulado. Nossa sociedade, tão carente de um processo educacional acessível e de qualidade está envelhecendo antes de ficar rica. Temos gargalos enormes a suprir em nossos índices de produtividade e a integração inteligente da geração mais velha pode contribuir para que nossa educação, como um todo, evolua. A legislação, de alguma forma, tem incentivado as empresas a empregar pessoas da terceira idade, porém, isso é insuficiente. Nossa sociedade terá que encontrar uma conjugação adequada entre preparar melhor nossa força de trabalho, enquanto também combata o etarismo, em todas as suas formas, e promova mecanismos cada vez mais democráticos para que os nossos idosos não se sintam excluídos.
Abílio Diniz falava com orgulho do seu lema: ser feliz, aprender sempre e compartilhar tudo aquilo que se aprende. Eastwood dirige ainda filmes de grande sucesso com contagiante espírito juvenil. São exemplos que certamente ecoarão positivamente por muito tempo e devem servir de inspiração para muitos. O aprendizado por toda a vida aflora como uma possibilidade real para cada um de nós. Ser um pouco melhor a cada dia, absorvendo novos conhecimentos, novos modos de ver o mundo que se descortina diante de nós. Assim, com essa curiosidade e esse espanto permanente diante das maravilhas da existência, talvez possamos enfrentar melhor o lado também perverso desse mesmo mundo, cuja realidade impõem-nos atitudes como aquelas que Clint Eastwood e Abílio Diniz tão bem souberam interpretar.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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