Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 6 de maio de 2019
O servidor federal Daniel Pinheiro, 35 anos, sempre se interessou por armas. Mas só decidiu procurar um clube de tiro e fazer o curso básico quando Jair Bolsonaro foi eleito presidente do País, em outubro de 2018. Entretanto, medidas anteriores à campanha armamentista de Bolsonaro já impulsionavam a procura pelo Certificado de Registro para CAC (Colecionador, Atirador e Caçador). Um levantamento do jornal O Dia apontou o crescimento de 175% no primeiro trimestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2017, ano em que o Exército editou uma norma permitindo o porte de armas para atiradores desportivos no governo Temer.
No primeiro trimestre de 2017, 4.347 novos atiradores receberam a certificação. Em 2019, o índice quase triplicou no mesmo período. Foram 11.960 novos registros emitidos entre janeiro a março deste ano. Mas o “efeito Bolsonaro” ampliou a procura por clubes de tiro. Foi o caso de Daniel. “Eu apoiei o Bolsonaro. Já estava com a expectativa do decreto (que ampliou a posse de armas). Acredito que ainda teremos outras mudanças para facilitar a vida do atirador”, projetou.
Durante o horário de almoço, ele frequenta o clube Colt 45, no Centro do Rio. E vai acompanhado pela mãe. O servidor fez o curso básico de tiros com a namorada em apenas um dia. “Demos 50 tiros. Ela adorou e também quer se filiar ao clube”.
Apesar do decreto assinado por Bolsonaro em janeiro para ampliar a posse de armas no Brasil, os interessados buscam outro caminho: o CR (Certificado de Registro) para CAC (atiradores desportivos). Paulo Coutinho, um dos donos do Colt 45, acredita que os atiradores buscam esse tipo de registro para poder circular com a arma. “Com a posse, a arma só pode ficar dentro de casa ou da empresa. A procura maior aqui é pelo CR. Com ele, o atirador pode trafegar com as armas no dia a dia”, comparou.
O advogado criminalista Thiago Minagé confirma a tese. Ele explica que, quem tiver a posse e sair na rua armado, comete o crime de porte ilegal de armas. Já praticantes de tiro não precisam ter esse tipo de preocupação, já que têm o porte de trânsito para o deslocamento entre o clube e a residência desde 2017. “Antes, eles só podiam transitar com as peças desmuniciadas”, disse.
Turmas lotadas
Paulo Coutinho viu as turmas do seu clube de tiro aumentarem em 70% desde a assinatura do decreto de Bolsonaro, em 15 de janeiro. Segundo ele, isso está relacionado à intensificação do debate sobre a cultura armamentista promovido pelo novo governo. “O brasileiro não conhece esse mundo das armas. O decreto foi uma publicidade”.
Em 2018, o curso básico era oferecido três vezes por semana, com turmas de três pessoas. Agora, as aulas são de segunda a sábado, sempre com turmas cheias, com até dez alunos. “Sábado, dia mais concorrido da semana, fechamos a turma com 12”, comparou Coutinho.
Café da marca “Bolsomito” na copa do clube
A recepção do clube é decorada com munições e café da marca “Bolsomito” para ser degustado na copa, onde os alunos só são orientados a reagir se forem abordados por assaltantes. Mas a melhor opção, alerta o instrutor João Bercle, é fugir, se possível. A ideia é desestimular ‘justiceiros’ e reforçar as consequências legais caso atirem fora do clube.
O presidente anunciou, em live no dia 18 de abril, que o governo prepara um conjunto de normas que vai alterar as regras do porte de armas de fogo para praças militares, colecionadores, caçadores e atiradores esportivos. Sem detalhar o decreto em elaboração, disse apenas que haverá novidades.