Quarta-feira, 23 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 15 de junho de 2017
O empresário brasileiro Valdomiro Minoru Dondo, um dos homens mais ricos e poderosos de Angola, foi alvo na quarta-feira da Operação Le Coq, que mobilizou cerca de 60 agentes da PF (Polícia Federal) no Rio para o cumprimento de quatro mandados de condução coercitiva e 12 de busca e apreensão. A pedido da Justiça francesa, o Ministério Público Federal, em parceria com a PF, investiga a utilização de intermediários em contratos entre o governo angolano e empresas estrangeiras na produção de papel moeda mediante pagamento de US$ 45 milhões em propina. Duas juízas francesas acompanharam a operação.
Dondo e Oscar Henrique Durão Vieira, um dos sócios do negócio, não foram encontrados pela PF, mas os agentes conduziram, sob coerção, Vicente Cordeiro de Lima e Gerson Antônio de Souza Nascimento, com quem foram apreendidos 127 relógios no valor superior a R$ 1 milhão. Os quatro são acusados de participar de esquema que lesou contratos do Banco Central angolano com a empresa francesa Oberthur, especializada na fabricação de papel moeda.
Em sociedade com autoridades angolanas, Dondo construiu um império de negócios de mais de 20 empresas, tendo como cliente o governo do país. Em dezembro de 2011, vários jornais publicaram um perfil do empresário. À época, ele era sócio, como pessoa física, de autoridades, ex-autoridades ou pessoas próximas a dirigentes governamentais, como Pedro Sebastião Teta, então vice-ministro da Ciência e Tecnologia, na empresa Júpiter; do brigadeiro Leopoldino Fragoso, o Dino, na Supermar; e da irmã da primeira-dama, Artemísia Cristina Cristóvão de Lemos, no Bob’s.
A proximidade entre Dondo e a família do presidente José Eduardo dos Santos, há três décadas no comando de Angola, é conhecida no país. Os negócios de Dondo em Angola começaram com a empresa Macon, de transportes coletivos, antes concentrados em lotadas de táxi e caminhonetes. Reportagem da revista The Economist questionou a utilidade de investimentos do governo, mostrando que foram comprados três mil ônibus, quando o país só tinha 1.500 motoristas habilitados.
No começo desta década, suas empresas lucravam R$ 90 milhões anuais com contratos públicos em Angola. Dondo não foi localizado para comentar as investigações. A Polícia suspeita que ele esteja em Luanda. Na época, o empresário negou irregularidades em seus negócios e relações com autoridades angolanas. Dondo confirmou ter sociedade com autoridades governamentais angolanas, sem citar seus nomes, afirmando que os negócios eram legais porque elas podiam ser sócias desde que não atuassem como executivas.