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Brasil O Enem tem quase 10 mil candidatos com mais de 60 anos, que buscam um futuro melhor

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O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019 acontece nos dias 3 e 10 de novembro. (Foto: Divulgação/Inep)

Os idosos representam 0,2% do universo de 5.095.308 inscritos para o Enem 2019, marcado para os dias 3 e 10 de novembro. São candidatos que, por motivos diversos, não tiveram na juventude as mesmas oportunidades de estudo que seus netos hoje têm.

Quando Sandra Carpenter nasceu, em 1949, metade da população brasileira de 15 anos ou mais nem sequer sabia ler, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Na época, somente 15% dos alunos matriculados na primeira série conseguiam chegar até o fim do primário. Ensino superior, então, era uma ambição reservada a uma pequena elite. Sandra até concluiu o primário, mas precisou trocar a escola pelo trabalho no segundo grau. Fez um curso de datilografia, ingressou no mundo profissional e deixou o sonho da universidade em suspenso. Casou-se, teve quatro filhos, adotou três enteados e, quando viu, o tempo havia passado.

Quando já era avó, decidiu terminar os estudos no Neja (Núcleo de Educação de Jovens e Adultos), projeto da Secretaria Estadual de Educação. O ano era 2013, e ela foi aprovada em uma faculdade pública, mas os horários das aulas impediram que o sonho fosse adiante. Agora, já bisavó, resolveu parar de adiar o antigo objetivo: “Meus netos dizem que não se fazem mais avós como antigamente”, ri Sandra, que estuda em um pré-vestibular do governo do estado. “Faço 70 neste ano, tive certeza de que esta era a hora. Não é preciso fazer nada mirabolante para voltar a estudar. É só encaixar os horários e querer muito. Intercalar os estudos com o trabalho é o grande desafio de muitos deles, que, embora já tenham idade para se aposentar, precisam continuar ativos para ajudar nas contas da casa.”

Horas de sono

Heliete Mendonça passou 38 anos longe da escola. Agora, chega mais cedo às aulas do pré-vestibular social do Sintuperj (Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Públicas Estaduais do Rio de Janeiro) para ler as apostilas e recuperar o tempo perdido. Aos 68 anos, ela vende quentinhas para se sustentar e diz dormir apenas três horas por dia para dar conta de estudo e trabalho. “Quero fazer Direito para defender  a minha própria causa”, sintetiza. “E para ajudar outras pessoas como eu, claro.”

A costureira Doralice Macário da Silva, de 66 anos, também elege o emprego como a principal dificuldade nessa volta aos estudos. De segunda a sexta-feira, ela deixa o ofício em Ipanema e se dirige à Gávea, onde assiste às aulas do Pré-Vestibular Social Seja Mais, na PUC-Rio. “A gente não tem muitas oportunidades novas”, diz Doralice, que quer ingressar no curso de Serviço Social. “Minha vida foi de muita luta, muito trabalho. Resolvi voltar a estudar porque os sonhos não devem morrer, independentemente da idade.”

A dificuldade de retornar aos livros após um longo período não foi empecilho para Francisco de Lima. Ele já somava 42 anos fora das salas de aula quando tomou a decisão. Aposentado após um acidente de trabalho, diz que a ajuda dos professores facilitou a volta. “Não foi fácil voltar, tudo parece um bicho de sete cabeças. Mas tudo o que a gente já aprendeu fica guardado, não é esquecido”, comenta o aspirante a advogado.

Estudante profissional

Colega de Francisco, a camareira Romana Ferreira, de 68 anos, aproveitou todas as oportunidades que teve para estudar. No currículo, estão desde cursos profissionalizantes do Senac à faixa preta no judô, que aprendeu na comunidade onde vivia. Apesar do cotidiano atarefado, ela encontra tempo para estudar fora da sala de aula. “Quando chego em casa, pego minha apostila para estudar espanhol e português, que são as matérias em que tenho mais dificuldade”, diz ela, que vive sozinha na Taquara. A busca por qualificação profissional também motivou Regina Lúcia Soares, de 59 anos, que encontrou dificuldades para ingressar no mercado após concluir o curso profissionalizante de camareira, há quatro anos.

Na época, não conseguiu emprego na área por não ter completado o ensino médio. Foi quando procurou o Neja, em uma escola pública perto de casa. “Trabalhei a vida inteira como doméstica, mas sempre gostei de estudar. Concluí o Neja no ano passado e pensei: ‘Agora vou ficar parada de novo?'”, diz ela, que hoje faz o cursinho do Sintuperj.

O mesmo raciocínio guiou Sandra, Romana, Francisco, Doralice e os quase 10 mil idosos que decidiram não parar a busca por um futuro melhor. “A vida ainda não acabou”, finaliza Sandra.

tags: educação

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