Imagine começar a ler um livro e, desde a primeira página, ser convidado a escolher qual rumo será dado à história. Mais do que isso, ter a possibilidade de definir o final da narrativa a partir das escolhas como leitor. É o que acontece com “O Enigma do Castelo”, da santa-mariense de Ana Pregardier. Em fase de produção, a obra conta com recursos da Lei Paulo Gustavo, por meio do governo federal e da Secretaria Estadual da Cultura.
Ana (que já tem 51 títulos publicados) mantinha desde 2013 a ideia de escrever uma história na qual o protagonista fosse o próprio leitor: “Fui uma daquelas adolescentes que jogava RPG e, talvez por isso, pensei em trazer a experiência do jogo de interpretação para dentro da obra”.
Como funciona: o leitor é estimulado a tomar decisões e, a partir de suas escolhas, é conduzido a narrativas diferentes e finais únicos a cada leitura. Assim, experimenta uma nova história a cada vez. “O poder do direcionamento da narrativa sai das mãos do autor e vai para as mãos do leitor”, complementa a autora. “Para quem escreve, a dificuldade é preservar a coerência da trama nos universos paralelos que vão se abrindo.”
A metodologia foi posta em prática por Ana em 2015, quando publicou “Formatura: Suas Escolhas Mudarão a História”, livro que conquistou o Prêmio Apala (Academia Pan-Americana de Letras e Arte) na categoria infantojuvenil. O texto permite 52 caminhos distintos e que direcionam o leitor a 24 possíveis desfechos.
Embora a ferramenta tivesse sido aplicada com sucesso, aquele não era o tema que Ana mais gostaria de explorar no exercício de um estilo literário marcado pela interatividade e por elementos comuns aos games. Já “O Enigma do Castelo”, aberto a todos os públicos mas dirigido prioritariamente à faixa dos 12 aos 18 anos, contempla temas de natureza universal, tais como amizade, identidade, coragem e amor, sob uma abordagem capaz de cativar atenção, engajamento e curiosidade dos adolescentes.
Na trama envolvente e repleta de mistério, aventura e reviravoltas, os leitores embarcam em uma jornada através do tempo e do espaço, acompanhando (e tomando parte de) desafios comuns à adolescência. No cerne da história, os personagens descobrem a importância de serem autênticos, ao mesmo tempo que percebem como suas escolhas moldam o futuro de suas vidas.
O projeto contemplado pela Lei Paulo Gustavo abrange a produção do manuscrito, com o desenvolvimento da espinha dorsal da trama através de pesquisa, escrita, revisão ortográfica, planejamento e adequações finais. Após a conclusão do manuscrito, as etapas seguintes incluirão revisões finais e preparação para publicação.
Ana Pregardier é escritora, educadora financeira e mentora de novos escritores: “Amo trabalhar, estudar e viajar. Cada dia, cada desafio, casa nova situação, tudo é crescimento e resultado se temos o cuidado de agir da forma exata que o momento pede e humildade para aprender sempre. O limite? É o nosso potencial. Devemos fazer somente tudo aquilo que nosso potencial permite”.
Contrapartidas
Como contrapartida no âmbito da Lei Paulo Gustavo, o projeto abarca aspectos inclusivos, como a realização de consultorias e pesquisas sobre acessibilidade na literatura. Não por acaso, dentre as fases de produção do manuscrito, também está prevista a qualificação da autora em acessibilidade literária, mediante consultoria com profissional especialista.
O projeto inclui, ainda, a realização do minicurso “Como pensar acessibilidade literária”, com um total de cinco aulas, que serão ministradas online e ao vivo, de forma gratuita, ficando disponíveis na página do projeto na rede social Instagram.
“Será uma oportunidade única para os participantes aprofundarem seus conhecimentos literários, focados no entendimento de como pensar uma literatura acessível, capaz de capacitar e potencializar o circuito profissional para uma produção cultural mais abrangente”, garante a escritora.
A expectativa é a de que sejam formados de 50 a 250 profissionais de forma direta, podendo chegar ainda a 1.250 de maneira indireta. Além disso, a partir do dia 9 de agosto serão realizadas dez lives, também pelo Instagram, sobre o tema da acessibilidade na literatura, cada uma delas com duração de 50 minutos, com a participação da autora, ao lado de especialistas e pesquisadores das áreas de literatura e acessibilidade.
(Marcello Campos)