Sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 23 de maio de 2019
O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB) afirmou nesta quinta-feira (23) ser dono de dois imóveis em áreas nobres da capital. Ele disse que as propriedades estão em nome do empresário George Sadala. A declaração corrobora as desconfianças de membros da Operação Lava-Jato de que o emedebista ainda mantém oculto parte do patrimônio acumulado com propina. É a primeira vez que há referência a esses imóveis como parte de seus bens.
Cabral prestou depoimento em ação penal em que é acusado de receber R$ 1,3 milhão de propina de Sadala, sócio na empresa responsável pelo programa Poupatempo no Rio de Janeiro. O emedebista declarou que recebeu, na verdade, R$ 1,5 milhão. E disse que dividia com o empresário a propriedade de um terreno em Ipanema (zona sul) e um prédio comercial adquirido junto à Brookfield na Barra da Tijuca (zona oeste), todos em nome de Sadala.
“São propriedades minhas, frutos de outros negócios que posso esclarecer em outras circunstâncias”, afirmou o emedebista. Ele tenta firmar um acordo de delação. Segundo o emedebista, Sadala chegou a obter o licenciamento para erguer um prédio “de três ou quatro andares” no terreno em Ipanema, mas o empreendimento não se concretizou. “Ele sempre me mantinha informado”, disse o ex-governador, que atribui em R$ 6,5 milhões o valor de sua participação no negócio.
A defesa de Sadala o questionou durante o interrogatório se Cabral tinha como provar a sociedade. O emedebista comparou Sadala aos doleiros Renato e Marcelo Chebar, que mantinham em seus nomes US$ 100 milhões do ex-governador no exterior. “Era assim como com os irmãos Chebar, na confiança”, disse Cabral.
A declaração contradiz o primeiro depoimento que Cabral prestou após decidir confessar, em fevereiro. Na ocasião, o juiz Marcelo Bretas perguntou expressamente se ele ainda mantinha bens em nome de algum outro laranja. Citou especificamente o empresário Arthur Soares, dono de empresa de terceirização de mão de obra também acusado de pagar propina. “Não, em nenhum lugar”, respondeu Cabral.
O ex-governador deseja firmar acordo de delação premiada, mas as suspeitas de ocultação de um patrimônio ainda inestimável é um dos principais pontos de resistência entre procuradores. Cabral é réu em 30 ações penais decorrentes da Lava-Jato e suas penas já superam 198 anos. Ele é acusado de cobrar 5% de propina sobre os grandes contratos do estado.
Após negar por mais de dois anos a acusação, o ex-governador decidiu confessar os crimes. Investigadores, contudo, acreditam que ele mantém um patrimônio oculto. A Lava-Jato já arrecadou mais de US$ 100 milhões atribuídos a Cabral, encontrados nas contas em nome dos doleiros Renato e Marcelo Chebar.