Na proposta de delação que negocia com a força-tarefa da Lava-Jato, o ex-ministro Antonio Palocci confirma que a ex-presidente Dilma Rousseff nomeou o ex-presidente Lula ministro-chefe da Casa Civil, em março de 2016, para evitar que ele fosse preso pela Operação Lava-Jato.
O ex-ministro descreve uma reunião sigilosa que teve com Lula, dias depois de o presidente ter sido conduzido coercitivamente pela Lava-Jato, em que Lula confidenciou que sabia que seria preso e que estava inclinado em ser nomeado por Dilma. As informações são da revista “Veja”.
Ele afirmou ainda ter entregue pessoalmente ao ex-presidente pacotes de R$ 30 mil, R$ 40 mil e R$ 50 mil. O dinheiro seria proveniente de propina e teria sido usado para despesas pessoais do petista, segundo Palocci.
As afirmações foram feitas num dos anexos da negociação de sua colaboração. Palocci conta que se encontrou várias vezes com Lula em 2010 para entregar “pequenas quantias” pedidas pelo então presidente. De acordo com fontes, os valores operacionalizados por Palocci também foram pagos por meio do sociólogo Branislav Kontic, o Brani, ex-assessor do ministro.
Recursos do Instituto Lula
Na proposta de delação de Palocci, consta ainda, que até recursos do Instituto Lula eram usados para pagar despesas pessoais do ex-presidente, numa contabilidade paralela que seria operada por Paulo Okamoto, presidente do instituto. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro no último dia 6, o ex-ministro afirmou que recebeu pedidos de repasses de dinheiro em espécie de Okamotto durante três ou quatro anos. Palocci também relatou que no final de 2013 repassou propina de R$ 4 milhões da Odebrecht para cobrir um buraco nas contas do instituto.
Em delação premiada, o empresário Marcelo Odebrecht disse que os pagamentos em dinheiro em espécie feitos a Lula, saiam da conta-propina “Amigo”, criada pela Odebrecht para custear as depesas pessoais de Lula. Marcelo Odebrecht relatou três pagamentos que somavam R$ 9 milhões e que foram entregues a Lula por Brani.
Na negociação com os procuradores, Palocci também promete revelar alguns dos principais clientes de sua empresa de consultoria, que ele abriu após deixar o ministério da Fazenda em 2006, vitimado pelo escândalo da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa. Nos anos seguintes, Palocci multiplicou seu patrimônio com a consultoria – quando a ascensão financeira pessoal foi revelada, em 2011, ele se demitiu do cargo de ministro-chefe da Casa Civil do governo Dilma. Palocci confessa que recebeu pagamentos em troca de abrir portas e usar sua influência junto ao governo em favor dos clientes.
Ainda não há prazo, porém, para o fechamento do acordo de Palocci. Nos bastidores, há incertezas sobre a condução das investigações da Lava-Jato por conta da substituição do chefe da Procuradoria Geral da República Rodrigo Janot pela sucessora Raquel Dodge. (AG)