Segunda-feira, 30 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 3 de junho de 2019
Protagonista da mais dura derrota do PSDB em eleições presidenciais, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, 66 anos, quebrou um silêncio de oito meses. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele classificou a disputa de 2018 como um plebiscito sobre o PT e o ex-presidente Lula, reconheceu que o tucanato não vivia o melhor momento e fez cobranças ao vencedor do pleito.
Para ele, o presidente Jair Bolsonaro e sua equipe não têm um plano e fazem o “País perder tempo”. “Ele precisa saber que o Muro de Berlim caiu há mais de 30 anos”, disse. Nem a equipe econômica, a cargo de Paulo Guedes, escapou das críticas de Alckmin.
O tucano mandou recados para João Doria, atual governador de São Paulo e novo expoente do PSDB: “Política é paciência cívica. Não nasci ontem”. Alckmin ainda anunciou um “pit-stop” da política: “O futuro a Deus pertence”.
“Vencer e perder fazem parte da vida política. Quem não estiver preparado para isso, não deve participar. Havia acabado de sair do governo, reeleito em primeiro turno, vencendo em 644 dos 645 municípios, e depois fiquei em quarto lugar para presidente. Cada eleição é uma eleição. Mas, como dizia Mário Covas, quando perde só há uma justificativa: faltaram votos”, disse Alckmin sobre a derrota nas eleições presidenciais do ano passado.
“Diria que, se tivesse tido um curso mais natural, o quadro seria diferente. Na realidade, vivemos uma crise política. E houve dois fatos importantes: o impeachment da Dilma [Rousseff] e a prisão do Lula. O PT se vitimizou. Depois, veio a facada do Bolsonaro, [com quem] me solidarizei e reitero a solidariedade, mas teve impacto. No fim, foi um plebiscito sobre Lula e PT, e venceu o anti-PT. Como Bolsonaro estava na frente, o rio correu para o mar”, prosseguiu sobre o pleito.
Questionado em relação ao motivo pelo qual o PSDB não conseguiu se manter como o polo oposto ao PT, o ex-governador de São Paulo declarou: “Sempre achei que teria um candidato mais à esquerda e um mais ao centro. O PSDB não vivia um bom momento, o Bolsonaro começou antes – e não tiro os méritos dele. Acabou avançando e o voto útil foi para ele. Quero dizer que não tenho nada contra o presidente, pessoalmente. Até simpatizo pelo jeito simples, mas discordo totalmente da agenda do governo, acho que está fazendo o Brasil perder tempo”.
“Temos 13,2 milhões de desempregados, cadê a agenda de produtividade? O Brasil não cresce, ficou caro para quem vive aqui, e tem dificuldade de exportação. Onde está essa agenda? Cadê a reforma tributária, fiscal? Eles não têm uma agenda, e a única proposta é voltar com a CPMF, que é um imposto ruim, em cascata, que onera as cadeias produtivas”, declarou o tucano.