Na mira da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) da JBS, o ex-procurador da República Marcello Miller disse ao jornal O Estado de S. Paulo que “não recebeu remuneração da J&F por nenhuma atividade” relativa à empresa e que não agiu por ganância. A manifestação é uma reação à entrevista do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot ao Estado, na qual ele disse que Miller “já não estava mais na equipe quando fez as besteiras que fez” e que avalia que o ex-colega agiu “por uma ganância”.
“Nada fiz por ganância: nem ir para a advocacia privada, nem preparar seu exercício em favor da J&F, depois de pedir exoneração do MPF[Ministério Público Federal”, rebateu Miller. Para ele, Janot poderia “se lembrar” que ele é um cidadão e que “tem direitos”. “Suposições vazias e adjetivações sem substância não contribuem para uma discussão sóbria”, disse Miller.
“Trata-se de questões relevantes para a vida de um cidadão que – abstraída sua condição de ex-membro do MPF, muito tendo dado de si à instituição – tem direitos. Quem exerceu por quatro anos o cargo de procurador-geral da República poderia lembrar-se disso”, afirmou.
Segundo Miller, é, “no mínimo, escassez de análise” o fato de Janot ter “reduzido à ‘ganância’ o desejo de participar do que seria um dos maiores projetos de remediação de empresas jamais empreendidos”. O Grupo J&F firmou o maior acordo de leniência do mundo, em valores absolutos. Miller disse que o dinheiro que recebeu na advocacia privada foi “estritamente” previsto em contrato, “sem nenhum acréscimo em razão de cliente algum”.
O ex-procurador está no centro da crise que atingiu a Procuradoria-Geral da República, suspeito de atuar nos dois lados do balcão e orientar a J&F quando ainda era do MPF. Esta é a primeira resposta direta de Miller a uma menção a seu nome. Desde que o imbróglio envolvendo a delação da J&F veio à tona, ele se manifestou em um artigo e por meio de seus advogados.
Íntegra
Veja na íntegra a manifestação de Miller:
“Com relação às referências de Rodrigo Janot a minha pessoa em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, publicadas em 20/11/2017, esclareço:
1. Não recebi remuneração da J&F por nenhuma atividade a ela relativa.
2. A remuneração que recebi na advocacia privada foi estritamente a prevista em contrato, sem nenhum acréscimo em razão de cliente algum.
3. Nada fiz por ganância: nem ir para a advocacia privada, nem preparar seu exercício em favor da J&F, depois de pedir exoneração do MPF. Reduzir a “ganância” o desejo de participar do que seria um dos maiores projetos de remediação de empresas jamais empreendidos reflete, no mínimo, escassez de análise.
4. Suposições vazias e adjetivações sem substância não contribuem para uma discussão sóbria. Trata-se de questões relevantes para a vida de um cidadão que – abstraída sua condição de ex-membro do MPF, muito tendo dado de si à instituição – tem direitos. Quem exerceu por quatro anos o cargo de Procurador-Geral da República poderia lembrar-se disso.”