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Por Redação O Sul | 27 de novembro de 2018
O ex-presidente do conselho de administração da Nissan Carlos Ghosn transferiu perdas sofridas em investimentos particulares durante a crise financeira de 2008 para a montadora, evitando prejuízo pessoal de milhões de dólares, disse o jornal japonês Asahi Shimbun nesta terça-feira (27).
Citando múltiplas fontes não identificadas, o jornal disse que o executivo repassou prejuízo de 1,7 bilhão de ienes (US$ 15 milhões ou R$ 57 milhões) para a Nissan por meio de uma operação financeira quando foi cobrado por um banco.
A Comissão de Vigilância de Títulos e Câmbio do Japão (Sesc) descobriu as irregularidades durante inspeção de rotina neste ano, segundo o Asahi.
A Nissan disse não poder comentar a informação, e um porta-voz da Sesc disse que o órgão não pode falar sobre casos individuais.
Ghosn está detido em Tóquio após ser preso na semana passada por fraude financeira, incluindo acusações de subdeclarar sua remuneração durante anos. O executivo nega as alegações, segundo a emissora pública japonesa NHK.
Ghosn, que foi removido por votação unânime como presidente do conselho de administração da Nissan na semana passada, também foi deposto de seu cargo na parceira Mitsubishi na segunda-feira.
Trajetória
Nascido no Brasil, descendente de libaneses e cidadão francês, Ghosn, 64, iniciou sua carreira na Michelin na França, onde trabalhou por 16 anos, e se transferiu para a Renault.
Ele chegou a Tóquio em 1999 para recolocar a Nissan nos trilhos, no momento em que a empresa acabava de se unir à francesa Renault. Ele foi nomeado presidente-executivo dois anos depois.
Com cerca de US$ 20 bilhões em dívidas, a Nissan precisou de um tratamento de choque na época. Houve demissões, encerramento de parcerias e fechamento de linhas de produção pouco produtivas.
Apelidado de “cost killer” (“cortador de gastos”), ele transformou um grupo à beira da falência em uma empresa lucrativa com volume anual de negócios da ordem de quase 100 bilhões de euros. Isso lhe valeu grande admiração no Japão.
Após o plano de recuperação, a companhia registrou lucros recordes.
Em 2005, o executivo passou a presidir também a Renault, sendo a primeira pessoa a liderar duas montadoras simultaneamente.
Em 2008, Ghosn passou a acumular também a liderança do conselho de administração da Nissan.
Em abril de 2017, passou o bastão para seu herdeiro, Hiroto Saikawa, ainda permanecendo à frente do conselho de administração. Passou a se concentrar mais na aliança da Renault com a Mitsubishi Motors, que ele levou para o topo da indústria automobilística mundial.
No mesmo ano, a empresa havia investido na Mitsubishi, após a companhia ser afetada por escândalo sobre falsificação de dados sobre emissão de poluentes.
A parceria Renault-Nissan-Mitsubishi é, hoje, uma construção de equilíbrios complexos, constituída de distintas empresas ligadas por participações cruzadas não majoritárias.
A Renault detém 43% da Nissan, que possui 15% do grupo do diamante, enquanto a Nissan possui 34% de seu compatriota Mitsubishi Motors. Rumores de fusão vazaram recentemente.
As acusações contra Carlos Ghosn, que construiu essa aliança sozinho, acumulando funções como nenhum outro executivo desse nível até então, são um duro golpe no trio franco-japonês que reivindica o título de primeiro conglomerado automobilístico mundial.
No ano passado, foram 10,6 milhões de carros vendidos, superando os concorrentes Toyota, ou Volkswagen.