Mais do que as declarações atravessadas de parte a parte contabilizadas nos últimos dias, o fator decisivo para o presidente optar por desalojar Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral foi o vazamento de conversas travadas entre ele e seu outrora aliado. Segundo pessoas próximas, Bolsonaro viu no episódio grave quebra de confiança e da confidencialidade de diálogos que ocorreram na coxia do Palácio do Planalto. Um aliado de Bebianno reconhece que, agora,o caminho parece sem volta.
Em sua peregrinação para obter apoio e se manter no cargo, Bebianno acabou abrindo algumas das conversas que travou com Bolsonaro desde o início da crise, na quarta (13). Ele teria decidido compartilhar os diálogos para provar que não mentiu ao dizer que havia falado com o presidente.
Quem esteve com Bebianno antes da reunião dele com Bolsonaro, na sexta (15), disse que o ministro parecia “um filho disputando a atenção do pai com os demais integrantes da família“.
O presidente, segundo pessoas próximas, considerou inaceitável a divulgação dos diálogos que travou com Bebianno. No fim da tarde de sexta, ele começou a informar seus aliados de que havia tomado uma decisão – e ressaltou que ela seria definitiva.
Apesar dos apelos de parte da equipe econômica pelo fim da crise, alguns dos arquitetos da reforma da Previdência já reconheciam, na tarde de sexta, que manter o secretário-geral da Presidência no governo seria inviável. Se Bolsonaro cedesse, disseram, passaria a imagem de que havia se tornado refém do auxiliar.
Auxiliares do ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) estão montando um cronograma para conversar individualmente com cada um dos 513 deputados sobre as mudanças nas regras da aposentadoria. A ideia é apresentar o texto e responder as dúvidas dos parlamentares.
O governo também pretende distribuir uma cartilha aos deputados. Querem que, uma vez que o projeto esteja na rua, todos possam defendê-lo em suas bases com conhecimento de causa.
Após a publicação de que o presidente havia sinalizado a aliados que demitiria seu secretário-geral, pessoas próximas ao ministro confirmaram que ele será exonerado e que não há volta na decisão de Bolsonaro.
Bebianno tornou-se personagem central da primeira grande crise do novo governo na quarta (13), quando o filho do presidente, Carlos Bolsonaro, disse nas redes sociais que ele havia mentido ao afirmar em entrevista ao O Globo que estava conversando normalmente com o titular do Planalto mesmo após a Folha revelar o esquema de candidaturas laranjas no PSL em ao menos dois Estados.
O ministro comandou o partido durante a campanha de 2018 e, por isso, chancelou a liberação de verbas hoje sob suspeita.
Num sinal de que havia autorizado a ofensiva do filho sobre Bebianno, Bolsonaro concedeu entrevista à TV Record na noite da mesma quarta reafirmando que não havia falado com o auxiliar. Ele ainda anunciou que havia pedido para o ministro Sérgio Moro (Justiça) pedir à Polícia Federal que investigasse o caso.
Desde então, a permanência de Bebianno no governo ficou em suspenso. Ele já foi braço direito do presidente e, durante a campanha presidencial, participou como poucos de decisões estratégicas para a disputa.